Durante o nosso percurso de vida, temos a certeza de apenas uma coisa: a morte. Eventualmente acaba por chegar a todos, sendo a única entidade que não discrimina, mesmo que a pessoa à qual chega essa infelicidade seja a Rainha Elizabeth II, aquela cujo reinado fica para a História como o reinado mais longo da monarquia britânica.
Recentemente, a comunidade internacional sofreu perdas devastadoras de personalidades que moldaram o desenvolvimento do século XX, como foi o caso de Mikhail Gorbatchev, último líder da
ex-União Soviética, que auxiliou no término das tensões que marcaram a Guerra Fria, sendo visto como um herói para milhões. E atualmente sofremos com a perda daquela que foi considerada como uma rainha improvável, a Rainha Elizabeth II, demasiado jovem para assumir um cargo de tal responsabilidade que lhe foi deixado abruptamente pela morte do seu pai, o Rei George VI.
O que é certo é que apesar das dúvidas existentes em relação ao seu reinado, Elizabeth II desempenhou a sua função com classe, elegância e pura destreza, tornando-se, posteriormente, numa figura icónica para os britânicos e não só, assumindo-se como um símbolo de união, longevidade e estabilidade que tratou de projetar uma frente unificada do Reino Unido e da Commonwealth.
Em contraste com esta imagem, a sua morte fica igualmente marcada pelas críticas oriundas de países anteriormente inseridos no então Império Britânico, que ainda se encontram revoltados pela sua antiga relação colonial e por esse cruel legado deixado, legado esse personificado pela monarca e que agora, irá transitar para o seu filho, o atual Rei Charles III. De facto, alguns países, entre os quais o Quénia, ainda lembram vivamente o sofrimento causado pelo domínio britânico no seu território. Outro exemplo transporta-nos até ao Médio Oriente, onde os governantes do movimento Hamas, na Faixa de Gaza exigiram ao novo rei que fossem tomadas medidas que retificassem as decisões tomadas durante a vigência do mandato britânico.
Perante todos os acontecimentos que ocorrem neste preciso momento no plano internacional, a perda de uma figura histórica que predominava na comunidade internacional ao longo de sete décadas, a transição para outro monarca pode, por vezes, revelar uma tendência para a revolta, um pretexto para se atingir alguma mudança governativa através do associativismo. A ideia de que a monarquia é um conceito que já não possui lugar no mundo contemporâneo é algo que muitos partilham, pelo que o novo monarca, o Rei Charles III, precisa de deliberar as suas próximas decisões de forma cautelosa. Desde o seu casamento com a falecida Princesa Diana, uma figura extremamente amada em todo o mundo, que Charles III viu a sua popularidade descer de forma estrondosa, pelo que a sua atual tarefa aparenta ser mais difícil de executar, uma vez que sem o apoio do povo, dificilmente alguém se mantém no poder, independentemente do tipo de regime. Esta necessidade de cautela e discrição é algo pela qual o novo monarca nunca foi reconhecido, tendo sempre o capricho de expressar de forma bastante determinada os seus ideais, muitas vezes revelando ter sido algo bastante caricato para a família real, aquela que é reconhecida como “The Firm”, pela sua convivência marcada por uma burocracia que se estende do trono até ao seio familiar, para além de ser expressamente inconveniente um monarca expressar a sua opinião, obviamente apenas por efeitos diplomáticos.
Com a queda do apoio pela monarquia e a ameaça iminente da ascensão dos republicanos ingleses, com o deflagrar da guerra em solo ucraniano, os preços galopantes derivados da inflação que abrange todo o globo, torna-se interessante, numa perspetiva puramente analista, ver o que o novo Reino Unido tem reservado para o resto do mundo, assim como para a lente dos media.
God save all of us.
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