A negação integral da soberania corporal das mulheres

Por Ricardo Moniz

É urgente recuperar a luta que há 50 anos atrás ditou o futuro de mais
de 20 milhões de mulheres.
Na passada quinta-feira, o Supremo Tribunal de Justiça dos Estados
Unidos da América alcançou o objetivo insano e extremo do Partido
Republicano de retirar às mulheres o direito de tomarem as suas
próprias decisões no que diz respeito à saúde reprodutiva, ao anular a
decisão do processo Roe vs. Wade, que, em 1973, tornou
constitucional a interrupção voluntária na gravidez.
Esta relutância transcendente que perdura nos dias de hoje é,
certamente, um reflexo da supremacia que o machismo continua a ter
na sociedade moderna.
Efetivamente, este episódio nefasto é a perfeita ilustração da absoluta
negação da dignidade humana na tentativa de controlar as mulheres e
os seus corpos — de forçá-las a passar por uma gravidez que resultará
na futura morte delas ou dos seus próprios filhos.
Não obstante, importa referir que esta lei não impedirá abortos, apenas
eliminará o acesso a abortos seguros e aos cuidados médicos
essenciais e necessários.
É inconcebível pensar no impacto que esta insipiência continua a ter
na delimitação dos direitos humanos e na salvaguarda dos mesmos.
Por seu turno, é nesta incapacidade de conseguir compreender que as
decisões fundamentais da saúde das mulheres devem ser tomadas por
elas, e não ditadas por políticos de extrema-direita, que se calca o
papel do conservadorismo.
Decerto, se isto fosse realmente sobre preservar e proteger a vida
humana, estaríamos concentrados nas centenas de milhares de
crianças que estão continuamente a ser negligenciadas e no sistema de
acolhimento familiar precário existente, ao invés de trazermos mais
vidas para um mundo onde não é garantido o apoio e a segurança que
estas necessitam.
Pensar que este Tribunal vai parar no aborto, é um erro. Eliminar o
direito ao aborto, coloca outros direitos protegidos pela 14º Emenda
em causa. Por isso, hoje, mais do que nunca, é urgente garantir que
essas liberdades fundamentais não continuam a ser erradicadas por
mentes conservadoras e que as futuras mulheres, que hoje, crianças,
ambicionam por um futuro mais próspero e seguro, vão ter acesso aos
cuidados médicos indispensáveis para a salvaguarda não só da sua
saúde corporal e mental, como também do devido acompanhamento
vital que requerem.

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