Forecast 2022: Este Asiático

O ano mudou, mas o assunto principal continua o mesmo: a Pandemia causada pelas várias variantes da COVID-19.

Em todo o mundo fomos expostos a mais três variantes do vírus, cada uma com as suas próprias características. Gama, Delta e Ómicron levaram o mundo a pausar os seus planos de recuperação da pandemia e concentrar todos os esforços em prevenir, testar e vacinar.

A vacinação foi dos assuntos mais controversos do ano de 2021 sendo que o negacionismo da sua eficácia, necessidade e segurança prevaleceu em todos os continentes. No entanto, para a maioria destes países o real desafio foi a organização logística e a recolha de recursos para que a mesma fosse realizada e acessível a toda população e nesse sentido a colaboração internacional foi determinante para os sucessos atingidos em 2021. No final do ano a vacinação atingia valores de 70% em quase todos os países desta região. Segundo os dados da OMS a Coreia do Sul encontra-se com a maior taxa de vacinação completa com a China logo em seguida.

Mesmo assim, no decorrer do ano vários países enfrentaram desafios diplomáticos, políticos e económicos que puderam, ou não, estar ligados à pandemia. Dos novos conflitos internacionais da China, à crise política do Japão, ao retrocesso e extrema dependência externa da Coreia do Norte, à esplendida reação pandémica da Coreia do Sul.

2021 foi um ano deveras desafiante, principalmente pelas desigualdades que se foram acentuando na luta e recuperação desta pandemia. Em todos os países as minorias raciais (como os indígenas), mulheres, jovens e outros grupos minoritários sofreram as principais e mais devastadoras consequências deste vírus, seja a nível laboral, de oportunidades ou mesmo no acesso às infraestruturas de apoio. Só 2022 nos dirá como será a reação e mais importante quais serão as medidas tomadas pelos dirigentes para os desafios que este ano advinha. Com a ómicron em força e a migração reversa das cidades para o interior, será que vamos assistir a uma distribuição mais igualitária da população ou foram apenas realidades temporárias? Parte dessas medidas serão a nível da cooperação Inter continental sendo que a 1 de Janeiro de 2022 irá ser posto em prática o RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership) que pretende expandir o comércio livre na zona Ásia-Pacífico (incluindo Austrália e Nova Zelândia) contribuindo para a recuperação pandémica. Será também um dos destaques da geopolítica e economia mundial em 2022 analisar a coexistência dos maiores acordos de comércio livre do mundo: RCEP e CPTPP que juntos representam mais de 30% do PIB mundial.

As novas tecnologias também marcaram grandes avanços no ano de 2021 e representam enormes desafios para muitos dos regimes no Este Asiático sendo que se por um lado a economia possa depender das plataformas digitais em certo espectro de negócios e atividades económicas, as mesmas podem contribuir para o crescimento do criticismo e da toxicidade na população.

Um aspeto extremamente preocupante foi a corrida ao armamento que afetou toda a Ásia com vários conflitos e uma possível guerra-fria 2.0 entre as principais potências mundiais que muitos dizem já ter começado. Adicionalmente os conflitos no Sul da Ásia também poderão interferir na rapidez e possível utilização deste armamento. Em suma, durante todo o ano de 2021 foram visíveis movimentos militares ao longo do Indico-Pacifico por várias potências mundiais e a corrida ao armamento por vários países do Este Asiático. Só nos seguintes anos podemos evidenciar o possível resultado destas alterações de estratégia militar.

Outro assunto extremamente relevante no Este Asiático foram os efeitos das alterações climáticas e como isso pode causar muitas mudanças no ano de 2022 com medidas como a cessação de financiamento para exploração de carvão em território estrangeiro pela China.

A Coreia do Sul é um exemplo de desenvolvimento sustentável utilizando o avanço das tecnologias com as necessidades ecológicas do mundo e, apesar de hesitante, assim que começou a transição para um país mais “verde” a sua progressão tem sido estável e dedicada com vários avanços desde sistemas de energia, a transportes e até novas políticas sustentáveis e tecnológicas como os Digital New e Green New Deals.

Voltando novamente ao assunto do ano, o Este Asiático foi particularmente afetado pela pandemia, especificamente, pela variante Delta que causou as principais vagas nos países em questão. Segundo o East Asia and Pacific Fall 2021 Economic Update do Banco Mundial as perspetivas de crescimento destes países não são otimistas apesar da China ainda se destacar neste dado. O mesmo documento analisa o dano causado pela pandemia como prejudicial a curto e longo prazo especialmente no que diz respeito ao crescimento económico e às desigualdades sociais presentes nestes países.

Tanto as famílias como as empresas sofreram e continuarão a sofrer as consequências esmagadoras da pandemia, principalmente as que estariam numa posição de desfavorecimento social precedentemente. Perdas nos seus rendimentos, insegurança financeira, impossibilidade de acompanhar o progresso escolar, entre outras. No que diz respeito às empresas, se por um lado, muitos pequenos e médios negócios não resistiram à pressão financeira, os mais proeminentes no mercado que viram uma queda no seu volume acabaram por tomar medidas de contingência financeira nomeadamente adiar investimentos de crescimento e solicitar apoio estadual, entre outros.

Relativamente à China, continuámos em 2021 com uma economia extremamente dominada pela intervenção interna sendo que Xi deixou bem claro a importância do papel dos consumidores provocando um aumento significativo na economia. O objetivo desse ano, que se apresenta próspero a continuar, foi fazer face à pressão exercida na classe média e não dar o destaque aos mais pobres e aos mais ricos. Mesmo assim, para o final do ano a economia chinesa decrescia drasticamente. A abordagem do presidente à situação pandémica não contribuiu para o desenvolvimento económico do país já que, durante todo o ano, o mesmo adotou uma posição intransigente sendo que ao mínimo sinal de cadeias de contágio cidades e regiões eram totalmente isoladas em quarentena. Por outro lado, permitiu uma prevenção eficaz dos contágios e consequentemente dos casos da doença e das suas consequências. Em 2021 foram também realizados os censos, no período normal de 10 em 10 anos, que mostraram uma diminuição no crescimento populacional, já antecipada, com um aumento de 50% na população que é agora “urbanizada”.

O Japão teve, definitivamente, um ano politicamente desafiador sendo que o primeiro-ministro Yoshihide Suga se demitiu após cerca de um ano no cargo. No entretanto, o país deparou-se com algumas dificuldades, maioritariamente causadas pela pandemia e pela crise laboral (relacionada com a crise de natalidade) que o país enfrenta há alguns anos. Durante 2021 enfrentou três vagas distintas, com várias variantes e a insistência na realização dos Jogos Olímpicos em Tokyo provavelmente não foi favorável à situação. Japão passou mais de metade do seu ano em estado de emergência e só em Outubro, já sobre regulação de Fumio Kishida, o mesmo foi levantado. No final do ano, a economia encontrava-se num ponto de crescimento estabilizado, no entanto, é difícil de prever os efeitos das seguintes variantes na população e como o novo primeiro-ministro irá lidar com a situação. Em Novembro de 2021 são publicados os resultados do censo mais recente e os mesmos são ainda mais preocupantes. Como foi referido anteriormente, o país atravessa uma crise de natalidade e estes dados confirmam uma diminuição na população ativa de cerca de 2 milhões de pessoas comparados com o anterior censo realizado 5 anos antes. Este será, sem dúvida, um dos maiores desafios de 2022 em conjunto com o combate à pandemia para que se verifique um crescimento considerável da economia e o país possa prosperar.

A Coreia do Norte enfrentou uma situação extremamente crítica ao ter-se isolado em quarentena total e fechado as fronteiras a qualquer contacto exterior. Acredita-se que em algumas regiões mais remotas do país má nutrição e até fome extrema foram fenómenos recorrentes, tendo chegado a um extremo fatal. Mesmo assim, o país, com alguma relutância, aceitou os apoios externos nomeadamente da China. Em Outubro de 2021 não tinha recebido qualquer apoio para a resistência contra a pandemia, nem vacinas, e mantinha o seu número de casos reportados nulo. Sendo assim, a única forma de combate à Covid-19 levada a cabo pelo país tem sido o seu próprio e total isolamento. Em contrapartida, esta dependência externa para a manutenção da economia contribui para um decrescente interesse por parte do dirigente de desenvolver ou fomentar a economia do país fechando-se num estado eremita fixando-se no desenvolvimento de armamento e, sem acesso às vacinas, com uma população fragilizada pela fome e descuidado será necessário prosseguir com a mesma abordagem para evitar uma rápida e potencialmente fatal proliferação do vírus.

A Coreia do Sul, por sua vez, apesar de enfrentar algumas dificuldades e aumentos de divida publica e das famílias, acabou 2021 com um balanço económico positivo sendo que o governo adotou medidas assertivas e reativas precavendo uma crise pandémica acentuada no país. Assim, a sua economia funcionou relativamente normal, sendo que os isolamentos nacionais, a nível económico, foram reduzidos aos mínimos necessários e foram oferecidos apoios aos trabalhadores em situações adversas. A sua experiência anterior a lidar com pandemias preparou não só o governo como a população para os desafios da COVID-19 controlando os contactos de risco, a quarentena individual e a utilização das máscaras. Da mesma forma, pela sua capacidade de gestão na pandemia ofereceu auxílio à comunidade internacional com máscaras e vacinas para países como os Estados Unidos e o Vietname.

Em termos gerais, é sabido que para a recuperação económica de todos os países será necessário apostar na vacinação e controlo das redes de contágio. No entanto os desafios são extremos para alguns países da região, não só pelos regimes e economias frágeis, mas também pela dificuldade logística e financeira na distribuição das vacinas.

Para o novo ano de 2022, os desafios da recuperação da pandemia enquanto ainda se lida imprevisivelmente com a mesma vão requerer um suporte internacional extremamente cooperativo e reformas em praticamente todos os estados e abordagens económicas, nomeadamente a normalização das novas tecnologias e mercados mais competitivos. Também será necessária uma reforma na educação e na saúde para recuperar do choque dos últimos dois anos. Será um ano particularmente desafiante, no entanto, enquanto o contacto com a pandemia progride acredita-se que a capacidade de reação possa aprimorar e facilitar a resistência à mesma.

A nível político e diplomático os países depararam-se com um contexto mundial extremamente instável, por motivos óbvios. A imprevisibilidade da COVID-19 agregada à lentidão na vacinação de muitos países levou a que as próprias relações internacionais tivessem um ano particularmente tenso.

A instabilidade política marcou o Japão de 2021 já que no final do ano anterior, por motivos de saúde, o até então primeiro-ministro Shinzo Abe foi forçado a reformar-se precocemente. Este facto causou uma sucessão provisória de Yoshihide Suga que tinha apenas um ano até às seguintes eleições partidárias e nacionais. Esse ano correspondeu a uma grande parte de 2021, no qual Suga viu-se sujeito à continuação das políticas de seu antecessor maioritariamente no que diz respeito à realização dos Jogos Olímpicos de Tokyo. Abe considerava a realização dos mesmos como uma demonstração de recuperação política, económica e social para o país, mas na verdade demonstrou ser um dos assuntos mais controversos do ano 2021. Várias estatísticas comprovam que grande parte da população atribui à realização das competições olímpicas a maior porção de responsabilidade pela quinta e mais destrutiva vaga que o Japão atravessou devido ao COVID-19. Este facto causou um decrescimento irrecuperável da popularidade de Suga e consequentemente a sua ausência nas eleições de Setembro. Das eleições partidárias seguiu vencedor Fumio Kishida, que seguiu na sua governação nos últimos meses de 2021. Pelas suas características liberais que contrastam com as ideias e políticas mais conservadoras de Abe surgiu uma nova esperança para a política japonesa que não será fácil de responder. Devido à forma como foi eleito e às características conversadoras da câmara alta, Kishida enfrenta a predominante influência da vertente conservadora e nacionalista do partido o que dificultará as mudanças radicais que seriam necessárias para reverter a abstenção e motivar os eleitores, por exemplo. A democracia japonesa enfrenta um período negro e apático, sem oposição eficaz e com abstenções extremamente altas só as eleições da câmara alta no ano de 2022 podem alterar de alguma forma o panorama nacional.

Kishida persiste nas políticas internacionais tentando manter as alianças com os Estados Unidos, com a Austrália e com outros membros do Quad ou Quadrilateral Security Dialogue. Com a China e a Coreia do Sul as suas relações permanecem instáveis sendo que o ano de 2022 irá marcar os 50 anos da normalização das suas relações pós-guerra com a China e, no seu discurso, Kishida atribuiu a responsabilidade de resolução dos conflitos à Coreia. Veremos comos as relações entre os três países evoluem durante o ano e como o Kishida irá prosseguir na sua política interna e externa: se por uma abordagem conservadora, subjugando-se à realidade da Câmara Alta ou se irá revolucionar e tentar alterar o curso da democracia japonesa.

O ano de 2021 foi muito ocupado na cadeia de conflitos internacionais para a China. Se por um lado os conflitos com os Estados Unidos parecem mitigados por uma aliança competitiva a corrida ao armamento e conflitos diplomáticos deturparam os relacionamentos com outros países como a Austrália ou o Canadá. Ainda assim, continua a ser visível a dependência comercial dos restantes países da China sendo que assim que a Austrália perde cerca de 12 bilhões de dólares em trocas comerciais com a mesma, países como os Estados Unidos, o Canadá e a Nova Zelândia substituem o que seria os mercados perdidos. Não sendo consensual se será vantajoso para estes países cortarem relações económicas com a China, é de total concordância que 2022 vai apresentar um desenvolvimento nestes conflitos mesmo que o curso dos mesmos não seja de fácil previsão. Se por um lado, o corte de comércio por parte destes países pode não afetar os principais integrantes de forma direta, as alianças criadas e as escolhas de comércio da restante comunidade internacional pode eventualmente alterar todo o panorama geopolítico que conhecemos. Uma boa notícia foi a candidatura da China ao CPTPP (Comprehensive and Progressive Agreement for Trans-Pacific Partnership), que abre uma janela de cooperação comercial entre a China e os restantes países do Ocidente. Em 2022, será certo que veremos Xi a conquistar novamente o governo chinês o que solidificará a sua posição política como supremo líder do país. Sabemos também que atualmente a China constitui um dos principais atores da economia e política internacional sendo o agente primário do polo comunista e de regimes autoritários e que a alteração nos acordos de comércio e no mapa de comércio mundial pode vir a ter consequências muito negativas para os restantes países deste polo e para todo o mundo.

A Coreia do Sul enfrenta um ano decisivo com eleições presidenciais em Março de 2022 e os principais candidatos, além de escassa experiência parlamentar, estão envolvidos em várias polémicas. Lee Jae-myung, candidato pelo partido regente Partido Democrático (PD) e o seu principal opositor Yoon Seok-youl pelo Partido de Poder Popular (PPP). As sondagens têm sido divergentes e grande parte dos seus resultados dependem da satisfação da população com o combate do atual presidente Moon, do partido PD, à pandemia do COVID-19. Este que tem tido uma excelente capacidade liderança e implementou as medidas que funcionaram bem no seu país de forma a evitar uma crise pandémica enfrentava no final do ano a implacável ómicron que atrasou os planos de voltar à normalidade. Mesmo assim, a Coreia do Sul continua a ser dos países com números mais positivos e sempre abaixo da média mundial a nível de infeções, hospitalizações e mortes pela doença. No entanto, com o aumento dos casos e das hospitalizações devido à última variante altamente contagiosa e uma abordagem de “coabitação” com o vírus, os sul coreanos mostram-se insatisfeitos com a gestão mais recente do presidente e isso teve um grande efeito na visão política. Acredita-se que a maior influencia eleitoral é do grupo etário dos 20 aos 30 anos e será esse o principal alvo das campanhas. No final do ano de 2021, o candidato da oposição encontrava-se em superioridade nas sondagens, mas nada ainda é garantido.

Previsão: Parece-me que o comércio do Indico-Pacífico irá sofrer algumas alterações à sua dinâmica sendo que a comunidade internacional continua a tentar encontrar um substituto para a China e os Estados Unidos a ver o nível elevadíssimo de cooperação comercial que existe naquela região e o potencial de desenvolvimento comercial que aquela região significa. Vamos ver se a administração do Biden decide enraizar as suas trocas comerciais nessa região ou participar nas já existentes. É possível que a apatia política no Japão continue a não ser que haja uma grande alteração do panorama político em 2022.

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