Forecast 2022: América do Norte

A COVID-19 continua a ser o principal assunto por todo o mundo e a América do Norte não é uma exceção. Mesmo assim, as dinâmicas entre estes países e em toda a comunidade internacional foram limitadas pelas mudanças internas maioritariamente nos Estados Unidos da América.

Foi um ano marcado por eleições e alterações de mandatos nesta região começando pelos Estados Unidos em Janeiro com a oficial tomada de posse do presidente Joe Biden até às eleições antecipadas que deram lugar no Canadá em Agosto, passando também pelas eleições legislativas mexicanas.

Em janeiro de 2021, a administração de Biden tomou posse da presidência dos Estados Unidos, logo após os acontecimentos de 06 de janeiro no capitólio e a grande violência aí instalada. Assumiu então vários desafios a nível interno e externo, relacionados ou não com a pandemia. Apesar da sua popularidade ter decrescido ao longo do ano, é notório que a administração de Biden conquistou importantes objetivos nomeadamente a parcial recuperação da economia, um aumento significativo no mercado mobiliário e financeiro, e a diminuição do desemprego. Em termos percentuais os valores são extremamente atrativos – a taxa de desemprego a 3.9%, um valor relativamente baixo, uma redução de 30% na pobreza infantil com medidas incidentes no apoio financeiro às famílias e aumentos salariais de 10% a 15% – no entanto, considerando o desgaste dos setores principalmente da saúde, entretenimento, restauração e outras extremamente afetadas pela pandemia, juntamente com a inflação vigente, que alberga valores extremamente altos, o balanço pode não ser tão positivo.

É importante relembrar que além de todos os desafios económicos derivados da pandemia, Biden enfrenta também os problemas passados pelas suas administrações anteriores nomeadamente os conflitos sobre a imigração, os conflitos com o Afeganistão e outros conflitos externos em que os Estados Unidos são chamados a intervir como no Sudeste Asiático e Pacífico. É também necessário enfatizar que algumas destas decisões, no caso, a retirada da intervenção militar do Afeganistão foi muito mal recebida pelo público, provocando um enorme dano no sentimento de patriotismo tão importante para os cidadãos americanos. Considerando ainda que esta retirada coincidiu com a principal incidência de casos da variante Delta, a taxa de aprovação de Biden foi caindo até ao segundo valor mais baixo de popularidade no primeiro ano de mandato, sendo apenas ultrapassado pela impopularidade de Donald Trump.

Adicionalmente, na sua campanha, Biden não fez promessas de baixa fasquia, sendo que se concentrou em tudo aquilo que idealmente poderia conquistar sem ter em consideração os possíveis obstáculos que certamente iria encontrar. A título de exemplo, os desentendimentos com o Senado de West Virginia na aprovação de medidas de extrema relevância como o controlo ambiental têm ocupado um destaque nos jornais e programas políticos americanos.

No entanto, ironicamente, a principal barreira ao retorno da normalidade tem sido, sem sombra de dúvida, o ainda presente “trumpismo” que leva ao negacionismo tanto da eficácia e necessidade da vacinação como dos resultados das eleições de 2020 o que origina uma grande descrença no atual presidente e permeabiliza o seu mandato. É preciso louvar que foi possível vacinar mais de 60% da população ativa nos EUA durante o ano de 2021, mesmo considerando as centenas de milhares de mortes que morreram devido à negação da sua eficácia.

A crise democrática dos Estados Unidos tem feito da presidência do Biden uma constante busca por frentes unidas e conquistas sólidas. Apesar disso, é possível criticar esta administração pela sua lentidão reativa e falta de entendimento. Pode ser fundamental que em 2022 estes precisem de se unir com a generalidade do partido democrático para conquistar as eleições intercalares. Claramente que a impopularidade astronómica de Biden durante o primeiro ano de mandato, as constantes promessas pela normalidade que não estão a ser cumpridas e a crescente popularização dos seus oponentes e das suas medidas mais drásticas não irão ajudar.  É então previsível que esta polarização persista e que a mesma seja visível nos resultados das eleições intercalares do ano 2022.

O México por sua vez não teve um ano fácil, mas acabou 2021 com a menor média de casos diários registada desde Janeiro. No final do ano, apresentava-se com uma taxa de vacinação completa de cerca de 55.81%. Com o país a necessitar urgentemente das atividades de turismo para a sua economia, foram mitigadas as medidas de contenção e segurança de saúde pública, o que se refletiu também nos turistas e no seu comportamento. Sendo dos poucos países sem grandes medidas de contingência é de esperar que possa sofrer grande impacto a nível dos casos e das mortes considerando a crescente expansão da variante Ómicron e o seu carácter extremamente infecioso.

O 2021 mexicano também ficou marcado pelas eleições legislativas e principalmente pela violência das suas campanhas onde perderam a vida no mínimo 35 candidatos. Eram mais de 20000 cargos em eleição e a governação de 15 dos 32 estados do país estavam em jogo. O presidente Lopez Obrador necessitaria que o seu partido mantivesse a maioria absoluta para que o seu mandato continuasse seguro e estável, sendo que se encontra a meio atualmente. Com uma abstenção de mais de 50%, os seus apoiantes conseguiram uma maioria legislativa absoluta suficiente para aprovar as reformas constitucionais. No entanto, é claro o descontentamento de parte da população pela pluralização dos resultados e pela taxa de abstenção. Prevê-se que o partido possa ter começado o seu declínio.

No Canadá, no seguimento de uma estratégia política, o então primeiro-ministro e o seu partido tentaram a sorte numas eleições antecipadas alegando que os acordos com os conservadores no que diz respeito às medidas de contingência para a COVID-19 punham em risco os canadianos e a economia do país, defendendo que o mesmo necessita de um governo estável que siga as regras ditadas pela ciência. Trudeau não obteve grande efeito desta alteração sendo que os resultados das eleições foram extremamente semelhantes aos resultados presentes em 2019, conseguindo o partido liberal representado por si uma maioria relativa. Apesar da sua vitória, a incapacidade de adquirir uma maioria absoluta pode atribuir a este resultado uma conotação negativa. No entanto, não são expectáveis grandes alterações a nível político continuando o Canadá a ser um dos países com uma maior taxa de vacinação (84%) e com a economia em constante recuperação sendo o país com uma maior recuperação económica no G7. É expectável pelo governo que o PIB do país retorne ao valor pré-pandémico no primeiro semestre de 2022.

O governo canadiano em 2021 procedeu ao apoio das famílias e negócios mais afetados pela pandemia, sendo que o mesmo apoio é previsível que continue à entrada e proliferação da variante Ómicron.

No entanto, o país atravessa os mesmos desafios internos que os Estados Unidos, sendo que todos os resultados positivos, são de certo modo assombrados pela inflação que se antevê extremamente elevada no decorrer dos próximos tempos. Assim sendo, o Canadá apresentou várias medidas financeiras nomeadamente apoios e regulamentos bancários para que este valor não se torne insuportável para as famílias e as empresas. O governo dá destaque à classe média e à necessidade de manter uma economia sustentável para o grupo que mais nela sacrifica. Assim, novos programas de apoio à educação são lançados para 2022 com o objetivo de poupar dinheiro às famílias e contribuir para o enriquecimento das novas gerações.

Mesmo com todos estes apoios, é de realçar que o país atravessou vários confinamentos no decorrer do ano e que estes tiveram impactos significativos no avanço da economia do país. Em dezembro, e com o retorno gradual à normalidade, as campanhas de vacinação para crianças foram cada vez mais generalizadas e a adesão foi positiva.

Damos destaque também ao evento do Dia Nacional da Verdade e Reconciliação que honra a memória dos que perderam a vida e dos sobreviventes das Escolas Residenciais Canadenses, com o objetivo de mitigar cada vez mais as desigualdades sociais para com os cidadãos indígenas e continuar a aprender com a história da colonização e opressão destes povos.

Os Estados Unidos correspondem a uma das maiores potências mundiais, muitos dizem que é mesmo a principal potência internacional, pelo que a sua influência neste território e na comunidade internacional é extremamente significativo.

Como foi referido anteriormente a administração Biden herdou alguns conflitos bastante complexos, sendo um deles a competitividade tensa que mantém com a China. O presidente dos Estados Unidos, continua a pressionar a comunidade internacional para tomar medidas e enfrentar o que ele considera o “autoritarismo de alta tecnologia” chinês. Mesmo assim, durante este ano assumiu novos acordos comerciais com a China e posiciona-se estrategicamente nos mares do pacífico com o objetivo de controlar as trocas comerciais desse território. Prevê-se que esta intensa procura por domínio e constante competição com a China irão prevalecer. Inclusive é plausível de assumir que irá ser uma nova característica do mapa geopolítico contemporâneo.

É importante salientar a relevância deste conflito, sendo que outros países como o Canadá são fortemente afetados pelos movimentos neste mercado tanto a nível económico como a nível diplomático. Durante este ano, inclusive, as relações diplomáticas entre o Canadá e a China foram afetados por eventos pontuais – a detenção do executivo da Huawei Meng Wanzhou e a detenção de cidadãos canadianos na China – como também, pela perpetuação do preconceito causado pela pandemia. 2022 será um ano definitivo para as relações entre estas duas potências.

Ao contrário do seu antecessor, Biden acredita que a melhor forma de combater o terrorismo é pela ação direta nos grupos extremistas em territórios como Paquistão, Afeganistão, Iraque, Oeste e Sudeste Africano e a Península Árabe. A sua administração defende uma proposta mais individualista utilizando grupos de ação nestes territórios e desacredita o efeito positivo no excesso de impedimentos para a entrada destes cidadãos no país. Da mesma forma, o Presidente defende uma abordagem menos violenta afirmando que a mesma deve ser utilizada em situações extremas de defesa dos interesses fundamentais dos EUA e promete acabar com as guerras no Afeganistão e no Médio Oriente. A sua medida mais mediática, a cessação completa da intervenção militar americana no Afeganistão, não foi bem recebida na comunidade nacional e internacional tendo acumulado críticas não só pela sua realização, mas também pelas consequências devastadoras que teve no povo afegão.

Da mesma forma, Biden restabeleceu algumas alianças internacionais e voltou o seu foco diplomático na reconquista dos seus aliados através do reforço da sua presença na NATO, e na participação no acordo de Paris e no acordo nuclear Irã. Adicionalmente, Biden ainda encara a crise da imigração como um problema causado pela administração de Trump, e defende uma reforma imigratória mais compreensiva, focando nos motivos pelos quais esta é necessária e quais as condições dos países de origem desses cidadãos.

A ecologia e as alterações climáticas foram outro assunto de destaque durante o ano de 2021 sendo que os países estão cada vez mais empenhados a intervir e tomar medidas para a sua reversão. A título de exemplo, a administração de Biden acredita numa reforma generalizada a nível dos transportes, das infraestruturas, com um maior controlo na pegada ecológica das empresas e dos particulares e com a criação de novos postos de trabalho.

O ano que passou mostrou-se tão surpreendente e exigente como o anterior e o território norte americano, com algumas das principais potências mundiais considera-se uma zona sensível e particular. Acredita-se que em 2022 a polarização no sistema político dos Estados Unidos e do Canadá prevaleça, mesmo com efeitos opostos nos dois países, e espera-se ansiosamente pelos desfechos a nível geopolítico durante o próximo ano. No entanto, é muito provável que os próximos 12 meses não sejam suficientes para resolver estas questões e muitas delas se repitam nas previsões do próximo ano.

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