Por Clarice Borges
A América do Sul é um subcontinente que possui atualmente 6% da população mundial com uma alta percentagem de mestiços. Marcado pela ascensão e declínio de impérios e dominações estrangeiras este território foi cenário de guerras coloniais, escravidão e imensa exploração. Até recentemente após guerras de independência é vítima de ditaduras e redemocratizações. Bastante dependente e vulnerável aos EUA na américa latina vigora um forte combate ao neoliberalismo por meio de alianças de esquerda, como o Grupo de Puebla.
Política:
O ano de 2021 foi regiamente o ponto de viragem no contexto político da América do Sul, revelando uma onda crescente da esquerda socialista e esta tende de afetar o Brasil e a Colômbia nas eleições que se aproximam em 2022. Palco de Golpe de Estado em Honduras (2009) e posteriormente no Brasil (2016) o conservadorismo instalou-se nos governos sul americanos, evidenciando a partir das suas medidas políticas, a desigualdade económica, concentração de capital e principalmente falta de investimento e emprego.
De 2015 em diante o aumento da direita nos diferentes estados, seja da América do Sul ou ao redor do mundo, foi percetível como a entrada de Mauricio Macri (Argentina 2015), Jair Bolsonaro (Brasil 2019) e Ivan Duque (Colômbia 2018). Porém a eleições ocorridas no Sul da América no ano de 2021 equilibraram a balança com a saída de alguns conservadores e a entrada de Pedro Castillo (Peru), Xiomara Castro (Honduras) e Gabriel Boric (Chile).
Acredita-se na volta da “onda vermelha” ou pelo menos numa virada da direita, esta faz-se sentir no Brasil, sendo 2022 ano de eleições o atual presidente Jair Bolsonaro possuía no final de 2021 uma taxa de desaprovação de 53% e segundo uma pesquisa da Datafolha o ex-presidente e possível candidato de esquerda Lula da Silva tomaria a frente com 48% dos votos. Na Colômbia o descontentamento da população relativamente ao governo de direita de Ivàn Duque é expresso nas ruas através de manifestações, o que cria um clima de esperança para a vitória de Gustavo Petro. Se tal vitória ocorresse este seria o primeiro candidato de esquerda a ser eleito presidente da Colômbia.
Previsões:
O ano de 2022 será marcado pela volta de uma maioria de esquerda em governos sul americanos, com a derrota de Bolsonaro (Brasil) e de Ivan Duque (Colômbia).
A votação para a nova Constituição do Chile na segunda metade de 2022 e tomada de poder de Gabriel Boric após derrota da extrema-direita, serão marcos não só do ano que segue, mas também históricos e a princípio tudo indica que as mudanças serão para o melhor.
Economia:
A polarização política teve um aumento gradual e estes foram intensificados com a pandemia do coronavírus, colocando em risco a democracia da américa latina. A tendência a extremismos aumenta com esta polarização e tanto à direita como à esquerda contribuem para a destabilização dos estados quer a nível económico ou social.
A Venezuela vítima de um governo de extrema-esquerda terminou o ano de 2021 como um dos países com a menor renda per capita do continente americano e simultaneamente o estado com uma das maiores reservas petrolíferas do mundo. O país que já teve a terceira maior economia da América do Sul sofreu uma baixa de 81,8% do PIB num período de apenas sete anos, vive em hiperinflação e cerca de 76.6% da sua população vive com menos de US$ 1,2 dólar ao dia. Ter em atenção de que os dados de 2021 podem estar sob influência dos impactos da pandemia, mas ainda entre 2013 e 2017 o PIB venezuelano teve uma queda de 37% e mais de 3 milhões de venezuelanos abandonaram o país provando de que a situação atual do país se trata de uma instabilidade política e não apenas uma crise sanitária.
O atual governo do Brasil, apesar de não ser explicitamente identificado como extrema-direita, coloca por vezes em perigo a democracia do país. Sendo este um dos países com a maior economia do mundo, em 2021 apresentou um aumento no PIB de apenas 0.5%, no entanto encerrou o ano com uma média de 70.9% das famílias endividadas e inflação ultrapassou os 10%. De facto, muito se deve à pandemia, porém ao analisar dados de 2019 logo no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, o PIB cresceu apenas 1,1% sendo inferior ao dos dois anos anteriores em que o país se encontrava em estado de recensão económica.
Com extremismos à parte no ano de 2021 a economia da América Latina num todo demonstrou uma recuperação, face ao ano anterior apesar da continuação do contexto pandémico, com um crescimento de 6,3 % do PIB, sendo este inferior à queda de 6,7% de 2020. O economista chefe para a América Latina e Caribe do Banco Mundial aponta de que este crescimento não será suficiente devido aos problemas estruturais pré-pandemia como problemas de infraestrutura, educação, política energética, capacidade empresarial e inovação.
Previsão:
O Brasil permanecerá um dos países da América Latina com o menor crescimento económico em 2022.
Haverá uma descida do crescimento da região num todo, com o aumento de apenas 2,1% do PIB, contra um crescimento de 6,2% registado em 2021. Os países com um maior crescimento económico são o Paraguai e Colômbia. Acredita-se igualmente na continuação do aumento da inflação sobre alimentos e energia.
Pandemia:
A América do Sul é certamente a região com o histórico mais trágico e desfavorável do mundo relativamente à pandemia, com o maior número de mortes e despreparado a níveis políticos e económicos. Desde líderes negacionistas a falta de investimento na área da saúde nesta região apresentou desde o início da crise sanitária, 2.740 mortes por milhão de habitantes.
O início de 2021 não foi nada fácil para o subcontinente americano, visto que o pico de mortes diárias decorreu no mesmo, com uma média de 10,85 mortes por milhão de habitantes. De certo modo, encerrou 2021 com um dado promissor com 64% da população completamente vacinada e 74,3% com pelo menos uma dose.
Quanto à vacinação, o país com a melhor taxa de vacinação da América do Sul é o Chile, com uma taxa de 85,6% da população completamente imunizada e início da imunização de crianças a partir dos 3 anos. Em contradição a Bolívia e o Suriname são exemplos de países sul americanos com a pior taxa, sendo esta inferior a 40%.
Previsão:
O ano de 2022 deve dar mais respostas em relação à necessidade de doses de reforço, se em 2021 a América do Sul demonstrou números surpreendentes de vacinação no parâmetro global, este ano não ficará para trás com o início da imunização de crianças em muitos países da região.
De qualquer modo, os números relativos à vacinação não diminuem a preocupação dos governos face à pandemia, visto que com a variante Ómicron o número de casos e internamentos voltou a subir.
Ambiente:
As alterações climáticas não são novidade e fazem-se sentir em todos os hemisférios, com o aumento de vagas de calor, inundações, secas extremas e furacões. No ano de 2021 não podia ser diferente, este ficou entre os anos mais quentes da história.
Com o decorrer da pandemia, muitas vezes os problemas climáticos foram colocados de parte, porém sofreram uma melhora após o início da pandemia, isto devido aos lockdowns de 2020. Em 2021 a emissão de gases de efeito estufa e a degradação ambiental marcaram presença logo após a redução de medidas sociais restritivas face a crise sanitária.
O estado brasileiro de Amazonas foi afetado por cheias que decorreram afetando o meio rural, este preocupou igualmente as autoridades no Paraguai, Uruguai e norte da Argentina. O Brasil no ano de 2021 registou 163 ocorrências de deslizamentos de terra e inundações em mais de mil cidades espalhadas por todo o país.
Previsão:
O ano de 2022 não será diferente quando se trata do meio ambiente, a tendência é que este seja cada vez mais vítima das mudanças climáticas. A América do Sul continuará á mercê das ondas de calor e prevê-se que logo na primeira semana do ano esta seja atingida por temperaturas até 50ºC no Uruguai, Argentina e alguns estados brasileiros. As inundações serão mais frequentes devido a esta subida da temperatura e do nível médio das águas.
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