O Inferno de La Palma

          A 19 de setembro, entrou em erupção o vulcão Cumbre Vieja, situado na Ilha de La Palma, integrante do conjunto das Ilhas Canárias. Após ter acordado do seu estado de dormência, que durou meio século, Cumbre Vieja ressuscitou, trazendo consigo caos e destruição, desalojando milhares de famílias e contribuindo para a perpetuação do problema das alterações climáticas, para além de ter extinguindo os meios de subsistência que sustentam a economia local.

Duração do Fenómeno

          Sem existir previsão que assegure a extinção iminente deste fenómeno, desde o seu início que a ilha de La Palma já contou com inúmeros sismos diários, sendo que sismo de maior magnitude registado até agora chegou a 5,1, na escala de Richter. A magnitude e a profundidade produzidas por esta sismicidade diária afeta em grande medida a estabilidade da estrutura do vulcão, que devido a estes embates constantes, sofreu o deslize do seu cone principal, desencadeando novos derrames de lava.

Nível de destruição e as suas consequências

          Segundo os dados disponibilizados pelo sistema europeu de satélites Copernicus, com este novo derrame de quantidades inusitadas de massa magna, o número total de hectares consumidos ultrapassa quase  os 900 hectares, tal como o número de edifícios destruídos, excedendo as 2.000 estruturas.

          Face aos acontecimentos mais recentes, o presidente do arquipélago das Canárias, Ángel Victor Torres, admite que o fim da erupção vulcânica ainda não se avista num futuro próximo “Ainda temos pela frente várias semanas de emergência”, citando as palavras de Victor à agência Efe.

          Entretanto, no meio de toda esta aflição, milhares de habitantes viram-se forçados a deixar os seus lares e os seus projetos de vida, na esperança de saírem intactos fisicamente, embora agora surja a temida questão de como se irão sustentar, uma vez que, toda a atividade agrícola que dinamizava a economia local e empregava um vasto número de trabalhadores, foi completamente devastada pelas chamas da erupção. Os danos causados atingiram maioritariamente o cultivo de bananeiras, abacates e vinhas. A estas baixas juntam-se de forma igual sistemas de irrigação e a contaminação dos lençóis freáticos.

          No entanto, cada vez mais mobilizam-se voluntários, empresas e cadeias de supermercado, que se disponibilizam em recolher, o mais depressa possível, produtos essenciais para a sobrevivência das vítimas do vulcão, que passam por comida, roupas e brinquedos, de modo a proporcionar um ambiente de positividade e esperança.

          Já o Governo espanhol também se prontifica a minimizar os danos causados na vida das populações afetadas pela erupção de Cumbre Vieja. Na sua quinta visita feita à ilha no passado dia 23 de outubro, o representante do governo espanhol, Pedro Sanchéz, afirma ser urgente apressar a ajuda económica prestada a La Palma, reunindo o conselho de ministros no dia 26.

          Para tal, o mesmo admite alterar o orçamento do fundo de contingência, de modo a acelerar a chegada de recursos, para os vários setores afetados, como é o caso do emprego local, onde vão ser disponibilizados 63 milhões de euros para o efeito, tal como a intervenção do Ministério da Agricultura e Pescas, que vai contribuir com uma ajuda de 6,8 milhões de euros, como estabelecido no plano de reconstrução da ilha.

           Efeitos da erupção vulcânica na qualidade ambiental

          Relativamente à sua ação no panorama ambiental, a erupção vulcânica propagou grandes quantidades de dióxido de enxofre para a atmosfera, que inclusivamente, chegou a transpassar fronteiras internacionais, afetando países como Marrocos, Tunísia e a costa mediterrânica de Espanha, França, Itália, Argélia e Líbia, segundo o sistema europeu de satélites Copernicus.

           Contudo, nos últimos dias, a qualidade do ar sofreu uma inversão positiva, devido à dispersão dos gases e à menor concentração de partículas de dimensões diminutas, especialmente nas regiões de Los Llanos de Aridane, El Paso e Tazacorte.

          Por seu turno, as autoridades espanholas informaram que a atual posição em que as nuvens de cinza e de dióxido de enxofre, irá permitir o retorno do funcionamento dos aeroportos nas Ilhas Canárias.

          Entre outros fenómenos consequentes da atividade vulcânica de La Palma, destaca-se a entrada de lava no mar, originando uma nuvem vertical, composta por vapor de água, de grande densidade, capaz de  impressionar qualquer um que testemunhasse este evento.

          Segundo Luiz Somoza, vice-reitor do Instituto Geomineiro de Espanha, esta nuvem revelou não ser nociva para a saúde pública, apesar de ter causado alguns constrangimentos, como  o aumento do perímetro de segurança, evacuação das áreas mais afetadas, a suspensão da navegação e a alteração na transparência das águas da costa oeste de La Palma. 

          Outra sequela do rompimento da lava no mar, acrescentou Somoza, materializa-se no aumento da temperatura da água na área atingida pela lava, tendo repercussões no ecossistema marinho da região, prejudicando a pesca, que levará, feita uma estimativa, um período de seis meses até recuperar na sua íntegra.

A posição solidária de Portugal para com La Palma

           Recentemente, o primeiro-ministro português, António Costa, expressou no final da cimeira ibérica, que se passou em Trujillo, na região da Estremadura Espanhola, a sua compaixão e solidariedade– representando os sentimentos dos cidadãos portugueses nas suas palavras- para com o desastre que ainda se vive em La Palma.

          No seu discurso, António Costa reforça a inegável importância dos laços existentes entre Portugal e Espanha, essencialmente na área da proteção civil, afirmando que “todos somos poucos para ajudar-nos nestes momentos tão difíceis que uns ou outros podemos viver”, palavras essas que foram recebidas de bom agrado pelo primeiro-ministro espanhol.

A luz ao fundo do túnel

          É de notar, igualmente,  a importância e as vantagens proporcionadas pelo sistema de satélite Copernicus, iniciativa que foi concebida conjuntamente entre a União Europeia e a Agência Espacial Europeia. Este projeto apresenta como principais objetivos a observação da Terra, de modo a prevenir, monitorizar e proteger a população na eventualidade de desastres naturais.

           É com este sistema que as autoridades espanholas têm conseguido, de forma eficaz, pôr em prática as medidas e protocolos implementados nos serviços de proteção civil espanhóis.  Apesar dos efeitos caóticos provocados pela erupção do vulcão Cumbre Vieja, esta situação permitiu constatar que a entreajuda e a solidariedade demonstrada para com as vítimas do vulcão, desempenha um papel essencial na ultrapassagem deste obstáculo, tal como expandiu uma mensagem de fé e esperança na reconstrução de tudo aquilo que foi perdido, sendo uma espécie de luz ao fundo do túnel.

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