Os conflitos israelo-palestiniano e israelo-árabe: hostilidade no coração do Médio Oriente

O conflito israelo-palestiniano constitui um dos conflitos mais complexos e violentos no Médio Oriente, sendo que a sua análise, quer no contexto histórico quer no contexto actual, requer uma especial atenção.

   De facto, a natureza conflitual da região é inegável, vindo a intensificar-se desde o século XIX, após a queda do Império Otomano. No entanto, a tónica não está apenas no facto de o Médio Oriente ser palco de inúmeros conflitos, mas sim na importância que a região e estes episódios têm na cena internacional.

 Neste sentido, a dinâmica da região e a sua posição geoestratégica leva a que as grandes potências mundiais, especialmente os Estados Unidos da América tenham não apenas interesses económicos e políticos na região, como também façam dela uma prioridade na sua política externa. Relativamente a este aspecto, a ausência de uma liderança regional torna ainda mais difícil a resolução dos conflitos, sendo que aumenta a “dependência contínua dos actores externos” (Acharya & Katsumata, 2011: 46).

     No que diz respeito ao conflito israelo-palestiniano, e ainda mais no contexto actual, veja-se que o mesmo se encontra intimamente ligado ao conflito israelo-árabe. Na verdade, ainda que dure desde o século XIX, como já foi acima mencionado, o mesmo tem adquirido um carácter cada vez mais violento e acentuado desde 1948, com o reconhecimento do Estado de Israel como um Estado soberano, sendo que “a fundação do Estado de Israel levou à expropriação de dezenas de milhares de palestinianos e seis grandes guerras” (Cox & Stokes, 2012: 208). Porém, as suas “profundas raízes históricas foram sustentadas por quatro tipo de actos hostis entre os principais adversários: violência, hostilidade política, discriminação económica e hostilidade/propaganda verbal” (Brecher, 2017: 117).

     Benny Morris (2009) recorda que “desde o estabelecimento de Israel em 1948-1949, e mais enfaticamente, desde o final da década de 1980, o pensamento sobre a divisão tem-se centrado na possibilidade de coexistência entre um Estado judeu, Israel, tal como definido territorialmente nos acordos israelo-árabes do armistício  de 1949 e um Estado palestiniano-árabe a surgir na maior parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza” (Morris, 2009: 26-27), objectivo que se tem revelado inalcançável.

    O conflito tem sido fortemente marcado por diversas guerras, entre as quais estão a primeira e a segunda Guerra de Gaza, em 2008/2009 e 2014 respectivamente.

   Se por um lado, como Ana Santos Pinto afirma, “a argumentação do Governo de Israel assentava em dois fundamentos essenciais: [a necessidade de] garantir a segurança dos israelitas, através da eliminação das capacidades de lançamento de rockets a partir de Gaza, por militantes de grupos radicais, em particular do Hamas, e a anulação do tráfico, nomeadamente, através  de túneis subterrâneos na zona fronteiriça  de Rafah, que divide Gaza do Egipto, [sendo que], no cumprimento destes objectivos, o principal alvo dos ataques israelitas – aéreos e terrestres – eram os militantes do Hamas” (Pinto, 2009: 38), no âmbito da Primeira Guerra de Gaza; por outro, a Segunda Guerra de Gaza foi talvez “uma das mais destrutivas guerras em grande escala no conflito prolongado israelo-árabe, tanto em vítimas humanas quanto em danos materiais” (Brecher, 2017: 139).

     Israel justifica as agressões, com base na “crença na ‘hostilidade árabe’ generalizada à ideia de um Estado judeu no domínio espacial árabe autodeclarado, o Médio Oriente”, estando a ela profundamente ligada “à relutância em reconhecer Israel como um Estado legitimo” (Brecher, 2017: 37), por parte dos Estados árabes. Também referem que “é uma ameaça contínua à segurança, sobrevivência de Israel, decorrente do desequilíbrio a longo prazo, nos principais indicadores de capacidade militar entre Israel e um alinhamento anti-Israel realista – a dimensão do território, tamanho da população em idade militar, vastas reservas de petróleo e consequentes recursos financeiros para um aumento militar” (Brecher, 2017: 37). Por fim, apelam às inúmeras catástrofes das quais o povo judeu foi alvo, especialmente o Holocausto.

   Deste modo, o conflito israelo-árabe surge como uma das principais ameaças à segurança regional, tendo um carácter multidimensional, ou seja, sendo dotado de uma dimensão religiosa, política, cultural, económica, psicológica e disputas fronteiriças. Deste modo, é possível concebe-lo como um dos desafios estratégicos mais perigosos no seio do Médio Oriente, “para aqueles directamente envolvidos e para todos os Estados da região que são atraídos, em graus variados, para a sua órbita” (Halliday, 2005: 307).

    Uma das potências com mais envolvimento na região e no conflito, além dos actores directamente envolvidos, são os Estados Unidos, uma vez que formaram uma aliança sem precedentes com Israel, o que afectou o compromisso dos EUA em relação à formação de um Estado palestiniano.

    Note-se que se poderá dizer que a afirmação do povo de Israel como o povo escolhido para liderar a Terra Prometida desenvolve-se “à custa dos nativos palestinianos” (Fawcett, 2013: 156).

    Em pleno século XXI, o conflito agravou-se, com a vitória do Hamas nas eleições palestinianas, em 2002, com a oposição aos resultados quer da parte de Israel e da parte dos EUA que, por sua vez, apoiou Israel no seu bloqueio militar e económico a Gaza. De seguida, em 2006, o Hamas voltou a vencer as eleições, o que exacerbou o sentimento de revolta do povo palestiniano relativamente “à ocupação de Israel de territórios palestiniano e o estabelecimento de assentamentos ilegais, assim como a corrupção da Autoridade Palestiniana e do Fatah” (Brecher, 2917: 121).

    Veja-se que para Brecher (2017) a solução a longo prazo mais viável para o conflito israelo-palestiniano passaria pelo reconhecimento da “soberania de Israel sobre Jerusalém Ocidental, a soberania da Palestina sobre Jerusalém Oriental e uma abordagem especial à Cidade Velha”, sendo que “idealmente deveria ser proclamada como uma ‘Cidade Internacional’, mas a experiência anterior, notadamente com Danzig, durante o período entre as guerras mundiais, demonstra que isso é impraticável a longo prazo” (Brecher, 2017: 326). Além disso, Israel também exerceria a sua soberania “sobre o bairro judeu” e a Palestina exerceria a sua “sobre o bairro muçulmano”, contando-se ainda com “um referendo nos bairros arménio e cristão para descobrir a sua preferência em termos de associação com Israel ou a Palestina e a ‘soberania de Deus’ sobre o Monte do Templo/Haram-al-Sharif governado por um regime internacional nomeado pela – e responsável pelo – Secretário-Geral das Nações Unidas” (Brecher, 2017: 326-7).

     A resolução do conflito por outras vias também parece inviável. Se por um lado, a “divisão da Palestina em três partes – Israel,  Cisjordânia e Faixa de Gaza – também faz pouco sentido em termos de uma variedade de recursos e serviços: os recursos hídricos do país não podem ser encarados como uma divisão artificial, os aquíferos das terras altas da Galileia – Samaria – Judeia servem necessariamente também as terras baixas abaixo”, também não “pode ser definido ou construído separadamente um sistema lógico de esgotos para a Cisjordânia (hoje em dia, muitas cidades e aldeias palestinianas, e indústrias, canalizam os seus esgotos para os cursos de água que correm para baixo, para Oeste, para Israel e para o Mediterrâneo)”. Além disso, importa não esquecer que, “Haifa e Ashdad são portos naturais para toda a Palestina, e o estabelecimento de uma entidade/Estado político na Cisjordânia sem estes escoadouros marítimos [também] faz pouco sentido”. Das vias aqui referidas, é possível concluir que “a própria forma e pequenez da Terra de Israel/Palestina (…) – torna a sua divisão em dois Estados um pesadelo prático e quase impensável.” (Morris, 2009: 177).

   De facto, a possibilidade de se formar um único Estado para dois povos que vivem no país “é ainda mais ilógica e irrealista do que divisão geopolítica do país” (Morris, 2009: 178), uma vez que além de terem religião e língua distintas, a “sua vida cultural e social, as suas formas de pensamento e conduta, são tão incompatíveis como as suas aspirações nacionais” (Morris, 2009: 178).

   Na verdade, as diferenças acentuam-se ainda mais quando se abordam as posições políticas e os valores defendidos por ambos os povos, sendo que “a sociedade judaica-israelita continua a ser em grande parte laica com predominância dos valores ocidentais e democráticos [que são inconciliáveis] com os valores autoritários e religiosos da sociedade árabe-palestiniana”. Acresce o facto de “o Hamas, uma organização antidemocrática, demonstrou na tomada da Faixa de Gaza em Junho de 2007 que não tem respeito pelo que é aceite no Ocidente como valores civilizados (…)” (Morris, 2009: 186-187). Os valores defendidos por cada uma das sociedades em questão são opostos, sendo que o “valor colocado sobre a vida humana e a regra do direito (secular) é completamente diferente (…)” (Morris, 2009: 187).

     Durante o mês de Maio de 2021, “as tensões entre Israel e os palestinianos aumentaram em espiral”[1], mais especificamente a partir do dia 10, ocorreram inúmeros episódios de violência extrema entre israelitas e palestinianos. Tom Bateman, correspondente no Médio Oriente pela BBC, afirma que foi a “pior violência em Jerusalém durante anos, com mais de 300 palestinianos feridos em confrontos com a polícia israelita fora da mesquita de al-Aqsa na segunda-feira”[2]. Junto à Mesquita de Al-Aqsa e nas suas imediações foram usadas “granadas paralisantes, balas revestidas de borracha e caminhões de água”[3] pela polícia israelita.

     De facto, “as tensões em Jerusalém têm-se intensificado desde que a polícia de choque israelita se confrontou com os crentes palestinianos na última sexta-feira do sagrado mês do Ramadão”[4].

    Acrescem ainda os confrontos entre a polícia israelita e palestinianos em Sheikh Jarrah, um bairro em Jerusalém Oriental, “com o possível despejo de famílias palestinianas das suas casas por colonos judeus”, mais uma razão pelos quais os conflitos continuaram.

     Poucos dias depois, as forças israelitas intensificaram “a sua campanha aérea contra a Faixa de Gaza”, por meio de “um devastador ataque noturno da artilharia e aviões de guerra com o objectivo de destruir um extenso sistema de túneis construídos pelo grupo militante Hamas para transportar combatentes, misseis e outras armas”[5]. Se por um lado, Israel enviou ataques aéreos contra o grupo do Hamas, por outro lado, partiam misseis da parte do Hamas para Israel. Os episódios dessa sexta-feira resultaram na morte de 135 pessoas, das quais 126 na Faixa de Gaza e 9 em Israel, sem contar com mais uma “centena de feridos ao longo de cinco dias de combate”[6].

   Além destes ataques, outros se deram por todo o país, sendo que muitos “irromperam na Cisjordânia ocupada, que tinha estado relativamente calma nos últimos dias (…), [sendo que] onze palestinianos foram mortos em confrontos na Cisjordânia com as forças de segurança, de acordo com oficiais de saúde”[7].

   No decorrer dos dez dias de confrontos violentos entre os dois povos, Benjamin Netanyahu, actual primeiro-ministro israelita, justificou os ataques israelitas contra o Hamas, afirmando que “não toleraremos ataques ao nosso território, à nossa capital, aos nossos cidadãos e aos nossos soldados, [sendo que] aqueles que nos atacarem pagarão um preço pesado”[8].

   As palavras de Amos Gilad, “um antigo chefe dos serviços secretos militares israelitas, à Rádio Army”, quando afirmou que “Jerusalém é actualmente um barril de pólvora que pode explodir”[9] parecem serem suficientemente claras para medir o nível de violência que o conflito está a geral na actual capital israelita.

   Só após dez dias de violentos confrontos e a morte de 200 pessoas, é que se assistiu a um cessar-fogo, frágil, mas ainda assim o fim dos ataques de ambas as partes. Sob o olhar atento do Egipto, que serviu de mediador para o fim das agressões, verificou-se ainda alguns confrontos “no exterior do complexo da Mesquita Aqsa em Jerusalém na sexta-feira à tarde entre palestinianos e a polícia israelita”[10].

   Porém, este cessar-fogo não teve impacto no nível das tensões entre os dois povos, que permaneciam atentos e temerosos de um novo ataque. Importa salientar que, embora haja cessar-fogo em determinados momentos da história, “as causas subjacentes ao conflito permanecem: a disputa sobre os direitos da terra em Jerusalém e na Cisjordânia, as tensões religiosas na Cidade Velha de Jerusalém e a ausência de um processo de paz para resolver o conflito, [sendo que] Gaza permanece sob um bloqueio punitivo por parte de Israel e do Egipto”[11].

De facto, “o conflito israelo-árabe tem sido o conflito mais prolongado, assim como o mais agudo de qualquer sistema regional de Estados em desenvolvimento, que entrou em erupção cinco vezes em plena guerra de 1948 e em hostilidades limitadas em várias outras ocasiões”, ainda que “as preocupações decorrentes da segurança militar dos Estados árabes da linha da frente foram agravadas pelo pronunciado desequilíbrio de poder a favor de Israel” (Korany et al., 1993: 275-276).

     Apesar de não se verificar qualquer avanço na evolução de um processo de paz entre os dois povos, as potências mundiais continuam a insistir nele, uma vez que temem que a crise humanitária em Gaza se continue a agravar, com um número mais crescente de mortes.

    Neste sentido, e no decorrer dos presentes confrontos, o presidente os EUA, Joe Biden, conversou diversas vezes com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Para ele, “os palestinianos e os israelitas merecem igualmente viver em segurança” e “desfrutar de medidas iguais de Liberdade, prosperidade e democracia”[12]

    Hoje, mais do que nunca, “diplomatas do Egipto, do Qatar e das Nações Unidas trabalharam intensamente para mediar o acordo entre o Hamas e Israel”, tentando evitar uma nova escalada de violência. Infelizmente, o acordo celebrado na sexta-feira, no Egipto não impede que novos episódios conflituais voltem a acontecer, especialmente depois de Benjamin Netanyahu ter afirmado que a “realidade no terreno determinará a continuação da campanha”[13] e de Taher al-Nono, porta-voz do Hamas, ter dito que “a resistência palestiniana respeitará este acordo enquanto a ocupação o respeitar”[14]

     Importa salientar que, atendendo à curta duração dos acordos celebrados entre Israel e o Hamas em anos passados, este cessar-fogo poderá ter uma data de validade reduzida. Porém, a sua duração também poderá dar abertura para “negociar um acordo a longo prazo” e principalmente dá “aos civis uma oportunidade de se reagruparem e permitir que as pessoas deslocadas regressem às suas casas”[15].

   São muitos os factores que impossibilitam a resolução do conflito israelo-palestiniano. Não se trata apenas de uma inflexibilidade ambas as partes ou a ausência de um hegemonia regional que possa mediar um processo de paz viável para o mesmo; a questão tem como ponto central o próprio nível elevado de conflitualidade da região, que só por si demonstra ter um impacto no sentimento de insegurança constante de Israel e por isso molda a politica externa israelita.  

    Um conflito que dura desde 1948, para não recuar ainda mais, implica um esforço não apenas das partes envolvidas, mas também das potências regionais e das potências mundiais.

Referências bibliográficas

Acharya, A., & Katsumata, H. (Eds.), (2011). “Beyond Iraq: the future of world order” (Vol. 3). World Scientific.

Brecher, M., (2017). “Dynamics of the Arab-Israel Conflict. New York: Palgrave Macmillan

Cox, M., & Stokes, D., (eds.), (2012), “US Foreign Policy”. Oxford University Press

Halliday, Fred. The Middle East in international relations: power, politics and ideology. No. 4. Cambridge University Press, 2005.

Morris, Benny. “One state, two states: Resolving the Israel/Palestine conflict”, Yale University Press, 2009

Recursos electrónicos

https://amp.france24.com/en/middle-east/20210510-clashes-erupt-at-al-aqsa-site-amid-heightened-tensions-on-jerusalem-day

https://www.bbc.com/news/world-middle-east-57053074

https://www.npr.org/2021/05/10/995417561/300-more-palestinians-wounded-in-new-violence-jerusalem-day-march-is-canceled?t=1622427750515&t=1622950466078

https://www.nytimes.com/live/2021/05/20/world/israel-palestine-gaza          https://www.washingtonpost.com/world/2021/05/14/israel-gaza-conflict-latest-updates/


[1] Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-middle-east-57053074 (consultado a 3/06/2021)

[2] Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-middle-east-57053074 (consultado a 3/06/2021)

[3] Disponível em: https://www.npr.org/2021/05/10/995417561/300-more-palestinians-wounded-in-new-violence-jerusalem-day-march-is-canceled (Consultado a 6/06/2021)

[4] Disponível em: https://amp.france24.com/en/middle-east/20210510-clashes-erupt-at-al-aqsa-site-amid-heightened-tensions-on-jerusalem-day (Consultado a 05/06/2021)

[5] Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/2021/05/14/israel-gaza-conflict-latest-updates/ (Consultado a 05/06/2021)

[6] Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/2021/05/14/israel-gaza-conflict-latest-updates/ (Consultado a 05/06/2021)

[7] Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/2021/05/14/israel-gaza-conflict-latest-updates/ (Consultado a 05/06/2021)

[8] Disponível em: https://amp.france24.com/en/middle-east/20210510-clashes-erupt-at-al-aqsa-site-amid-heightened-tensions-on-jerusalem-day (Consultado a 05/06/2021)

[9] Disponível em: https://www.npr.org/2021/05/10/995417561/300-more-palestinians-wounded-in-new-violence-jerusalem-day-march-is-canceled?t=1622427750515&t=1622950466078 (Consultado a 05/06/2021)

[10] Disponível em: https://www.nytimes.com/live/2021/05/20/world/israel-palestine-gaza (Consultada a 06/06/2021)

[11] Disponível em: https://www.nytimes.com/live/2021/05/20/world/israel-palestine-gaza (Consultada a 06/06/2021)

[12] Disponível em: https://www.nytimes.com/live/2021/05/20/world/israel-palestine-gaza (Consultada a 06/06/2021)

[13] Ibidem

[14] Ibidem

[15] Ibidem

(Créditos da imagem: The Economist)

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