Maria Bondareva é aluna do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo (MGIMO) e realizou o Programa Erasmus no ISCSP.
Com este artigo tenciono partilhar as conclusões do meu estudo sobre os impactos da pandemia na economia brasileira.
Em primeiro lugar, temos de debruçar o olhar sobre a situação antecedente ao coronavírus. O Brasil em 2020 não tinha ainda recuperado da crise económica dos anos 2014-2016, sendo que esta crise veio relevar a ineficácia e a falta de relevância do sistema socioeconómico do Brasil. Na década antes da crise, nos anos 2003-2013, as condições económicas mundiais foram as mais favoráveis possíveis, com os preços das comodidades bastante elevados e com a China a afirmar-se como o crescente destino das exportações brasileiras. Porém, em 2014 os preços dos recursos caíram, os ritmos da economia global abrandaram, os processos da integração como MERCOSUR quase pararam, as empresas transnacionais como Petrobras ficaram menos atraentes para investimentos, por causa dos escândalos de corrupção e nos EUA, Donald Trump chegou ao poder. Por estes motivos, desde 2014 a economia brasileira tem sofrido uma recessão profunda, e de forma a acabar com esta situação precária é necessário levar a cabo reformas estruturais na economia. Isto requer muito tempo de estabilidade no exterior, contudo o coronavírus veio interromper este processo.
No ano de 2020 o PIB brasileiro diminuiu 5,3%. Todavia, as perspetivas parecem melhores para este ano, prevendo-se que o PIB possa crescer 3,2%. Neste caso, só em 2024 é que o Brasil será capaz de atingir o nível do ano 2014, o que significa uma década perdida.
O coronavírus afetou o mercado de trabalho e aumentou a taxa de desemprego para 14,7%. A moeda nacional desvalorizou muito e ficou 23% mais barata em comparação com o dólar. A razão disto é, a saída massiva do capital do país, porque o Brasil se tornou menos atraente para os investidores. Isto foi o resultado da política social do estado. O Brasil pôs em prática os programas de apoio para os cidadãos e as empresas. Em conjunto, os recursos que o Brasil canalizou para assistência social atingiram cerca de 10 % do PIB. Por isso a dívida pública cresceu para 93% do PIB, tendo sido este indicador determinante na dinâmica do capital.
Desde o segundo, e mais intensamente, o terceiro trimestre do ano passado, o Brasil começou o processo de recuperação económica. Alguns setores alcançaram já o desempenho que tinham antes da pandemia, mas as indústrias mais sensíveis e importantes como a indústria metalúrgica e a de automóveis ainda ficam para trás. Isto leva a pensar que a recuperação da economia é um processo muito heterogéneo e que requer tempo.
Para o ano 2021 o Brasil tem que procurar um desenvolvimento económico mais sustentável e para isto é preciso concluir a consolidação fiscal, isto é, regular mais rigidamente o balanço entre as despesas e receitas do orçamento, cortar os programas de apoio social, desenvolver infraestruturas para atrair investimentos, e mais importante, reduzir a intervenção do estado na economia, melhorar o espírito empresarial e levar a cabo as reformas liberais.
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