Se o globo em geral, e sobretudo depois da ordem mundial fundada após o desfecho da 2ª Grande Guerra, e posteriormente confirmada pela queda da União Soviética, navega sempre um pouco ao sabor da vontade dos Estados Unidos da América, seja financeira, militar ou politicamente, a América do Norte vê este efeito amplificado, dado o peso relativo dos EUA face aos países vizinhos. Neste contexto, o status quo deverá manter-se: serão os movimentos dentro dos EUA e a sua estratégia que irão condicionar toda a acção a nível geopolítico da região. Desta feita, ressalvamos alguns aspectos particulares que estarão sob escrutínio em 2021.
Neste momento, prevê-se que os Estados Unidos tenham, em termos relativos, dada a sua dimensão, o deployment mais eficaz em escala da vacinação. Além disso, a dinâmica inerente à economia americana poderá provocar um retorno ao crescimento mais cedo do que os seus pares do outro lado do Atlântico. Isto irá representar boas notícias para os países vizinhos, cujas economias se encontram incontornavelmente ligadas ao poder de consumo americano. Poderemos assistir a um reforço das ligações entre os EUA e o México, cuja semente já foi, inclusive, plantada pela administração Trump, na renegociação do antigo NAFTA (actualmente USMCA). Apesar dos discursos fracturantes, tanto Trump como AMLO se manifestaram alinhados em termos de interesses concretos e materiais, e esta tendência deverá manter-se sob a administração Biden.
Produto das actuais tendências a nível de política económica, poderemos assistir ao início do processo de renovação das infraestruturas nos EUA, bem como de uma nova era de industrialização, catalizada por preços de energia baixos e um interesse crescente em energias renováveis. Ainda no assunto da energia, o descartar do pipeline Keystone XL coloca obstáculos à integração da economia canadiana, sobretudo na região do Alberta e das Grandes Planícies, que são as regiões excedentárias que suportam os avultados gastos estatais, sobretudo das províncias atlânticas, há muito dependentes destes rendimentos.
Previsão: Retorno mais rápido ao crescimento económico na região, com particular enfoque para as relações bilaterais EUA-México. Potencial para inicio da reindustrialização americana.
Previsão: Estagnação económica no Canadá, que poderá ter ramificações políticas.
A América do Norte é talvez, ao nível dos estados, a região onde menos mudanças e pontos de tensão se esperam em todo o globo. O mesmo não se poderá dizer da América Central, e este será provavelmente um foco de movimentos políticos. Não se espera que a recuperação económica seja muito pronunciada nestas regiões, o que levará a uma manutenção das vagas migratórias que tem chegado à fronteira México-EUA.
Previsão: Potencial para a manutenção das tendências migratórias oriundas da América Central.
A instabilidade política e social que se fez sentir em 2020, dos vários sectores do espectro político, e que culminou com a invasão do capitólio, deverá inverter a tendência, com os resultados eleitorais nos EUA a fortalecerem o caso de que o centro político não perdeu força entre o eleitorado, um novo cabinet experiente e tecnocrata, e o prenúncio de uma recuperação económica generalizada. Será impossível reverter algumas tendências macro que foram mais vincadas na administração Trump, sobretudo no posicionamento face à China, e deveremos assistir a um aprofundar do que ameaça materializar-se em decoupling económico, com o México a funcionar como substituto a nível de cadeias de baixo valor acrescentado, e alguns dos sectores a voltarem para os EUA. Uma política internacional menos combativa por parte da administração Biden e um maior outreach por aliados poderá catalizar a consolidação de blocos de alianças, incluindo potencialmente o Japão na estrutura da five eyes.
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