A África Subsaariana, sendo a região que é, acaba por ter uma cobertura dos media bastante limitada, existem alguns relatos de problemas e conflitos no continente, no entanto nenhum deles abordado com a devida profundidade. O ano de 2020 foi ainda mais caótico do que o esperado, tendo sido instável em termos sociais, políticos e económicos, um ano cheio de dificuldades e na maior parte, com acontecimentos de cunho negativo.
A grande maioria dos países desta região foi e é afetado por algum tipo de conflito político interno e que acaba por se desenrolar nas vias militares, permeando a sociedade em seus níveis mais profundos e atrapalhando a qualidade de vida e o avanço societal e económico dos indivíduos que ali habitam. A crise no Sahel continua, novas tensões internas emergem e a problemática dos grupos rebeldes se intensifica.
Em adição a isto, juntamente ao restante do globo, a África Subsaariana sofre e muito com a pandemia de Covid-19, sem perspetivas de melhorar tão cedo.
Os principais acontecimentos do ano de 2020 na África Subsaariana foram:
A luta da África Subsaariana contra o Covid-19
A luta contra o Covid-19, gerou menos impactos do que o esperado na região, no entanto, a partir de um determinado momento, quando a pandemia começou a se agravar, o número de casos aumentou astronomicamente.
Países como Etiópia, Kenya, Nigéria e África do Sul, sofreram imenso devido aos impactos do vírus, seja pelo custo humano, com um assustador número de mortos, ultrapassando os 55 mil, seja pelo custo económico, tendo sido arrastados para a primeira recessão nessa região em mais de duas décadas e afundando o PIB per capita, criando um retrocesso enorme.
O conflito militar na Etiópia e a fuga dos Etíopes para o Sudão
O conflito militar na Etiópia deu-se devido a tensões entre o governo Federal do atual primeiro-ministro Abiy Ahmed, e o governo regional do Tigray, chegando inclusive a congelar o orçamento Federal destinado à essa região.
A tensão aumentou ao longo do segundo semestre de 2020 e explodiram após movimentos militares por parte do governo Federal Etíope, tendo Abiy Ahmed justificado essa ofensiva alegando que A Frente De Libertação Popular teria atacado uma base militar federal na região. Desde então, desenrola-se um conflito violento, onde se alega o uso da fome e do estupro como armas contra a população que se rebela contra o governo Federal.
Isto gerou uma fuga em massa, de cerca de 2.2 milhões de pessoas, da população do Tigray, cerca de 60 mil para o Sudão, onde se construiu uma tensão fronteiriça militarizada.
As consequências regionais deste conflito interno, têm feito com que, aos poucos, este conflito transforme-se num acidente geopolítico, impactando o chifre africano e vários atores internacionais envolvidos no plano político desta região.
Até ao final de 2020 já foram mais que 200 as vítimas mortais do conflito em Tigray.
A continuação da crise do Mali e o crime transnacional na região do Sahel
A crise do Mali, que se originou em conflitos entre grupos rebeldes e o governo do Mali em 2012 segue até hoje.
Apesar de tentativas de gerar paz e segurança, como por exemplo a tentativa de um acordo de paz em 2015, até hoje existe um vácuo de segurança.
Os grupos rebeldes em associação com grupos extremistas islâmicos têm criado o caos no Mali desde 2012 e isso se espalhou pela região do Sahel, principalmente no Burkina Faso e no Níger, o tráfico de drogas, armas e o terrorismo, aterrorizam, a região e criam um constante clima de instabilidade política e social, pelo qual a população sofre constantemente.
O número de civis afetados é gritante e entre mortos e deslocados, os números ultrapassam o 1 milhão de indivíduos afetados.
O problema de segurança associados à grupos Jihadistas em Moçambique
Cabo Delgado, a província mais a norte de Moçambique, é a província do país com a maior quantidade de pessoas de fé islâmica.
Diversos ataques esporádicos, desde 2017, ocorrem na região por parte de grupos extremistas muçulmanos, alguns com ligação a organizações Somali, recentemente, com ligações ao autoproclamado Estado Islâmico.
Em 2020, houve uma piora considerável das condições na região, o número de mortos e deslocados não para de aumentar e as repercussões políticas na região tornam-se cada vez maiores.
Esta problemática securitária acabou por gerar um maior impacto a nível internacional devido ao número de deslocados que já se aproxima do meio milhão, além da interferência dos rebeldes no projeto de gás em Cabo Delgado, que é o maior investimento privado na África, sendo assim de imensa importância para a economia Moçambicana.
A Brutalidade policial na Nigéria
A brutalidade policial de um esquadrão específico das forças de segurança Nigerianas, mais especificamente, o Esquadrão Especial Antirroubo (SARS, em inglês), veio à tona quando um vídeo onde alegadamente apareceriam agentes do SARS a cometerem agressões foi veiculado nas redes sociais.
Desde então, esta força policial foi acusada de matar e torturar pessoas por grupos defensores de Direitos Humanos, o que levou a protestos de grande porte na Nigéria.
Estes protestos levaram à morte de cerca de 100 indivíduos entre policiais, militares e civis.
O governo Nigeriano acabou por decidir que iria extinguir o SARS.
Os protestos levaram milhares de pessoas à rua, mesmo em tempos de pandemia e levaram a que outras situações de violência desmedida por parte das forças policiais fossem descobertas e adereçadas pelo governo.
Foi um ano extremamente conturbado, onde se reflete um momento caótico que a África Subsaariana atravessa e que terá consequências no futuro a médio longo prazo, a reavaliação de políticas externas que têm a região em voga acontecem, a administração Biden após assumir, altera a postura dos Estados Unidos em sua relação política com diversos países Africanos, como por exemplo a isenção do banimento de viagem de cidadãos de países de maioria Muçulmana para os Estados Unidos. Por parte da China continua-se o “projeto Africano” e a expansão chinesa continua e os impactos da pandemia de Covid-19 e subsequentes ajudas oferecidas pela China à países africanos, acabam por aproximar mais ainda as relações China-Africa, terreno onde o governo chinês já procura relações diplomáticas há algum tempo, tendo sido a sua primeira base militar fora da China no Djibouti, por exemplo.
Previsões: Em termos políticos, a situação deverá manter-se muito parecida, um ambiente de fraturas e conflitos a escalarem para o pior, se perspetiva de trégua no futuro a curto prazo, visto que as partes envolvidas na maioria dos casos não dão a noção de querer de-escalar o conflito de forma alguma.
No que diz respeito à pandemia, até que exista imunidade de grupo ou campanhas de vacinação à larga escala, as previsões é que os impactos da mesma continuem a ressonar na sociedade dos diversos países Africanos.
Devido à instabilidade política e social, acrescidas pelo impacto da pandemia, a noção é que a economia também terá dificuldades em se reerguer, até que exista algum tipo de estabilidade ou condições para existência da mesma, no meio do pandemônio que é a arena política, social e económica no presente momento, na África Subsaariana.
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