Forecast Sul da Ásia

O Sul da Ásia é uma das regiões mais populosas (1,65 milhões de habitantes) e um dos maiores subcontinentes do planeta. Desde os anos 2000, particularmente desde 2010, esta região viu a sua importância geopolítica crescer de forma exponencial, devido à ascensão da China e da Índia e, até certo ponto, do Paquistão. Tradicionalmente, é considerada uma região cujos níveis de pobreza são elevados, assim como vários outros indicadores sociais, como a alfabetização, a expectativa e a mortalidade infantil, não obstante a evolução que os países desta região vinham a encetar até ao surgimento da pandemia. Com a pandemia, e apesar dos avanços económicos e nos padrões de vida, os países que constituem esta zona geográfica-Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka-viram-se a braços com uma situação grave de crise económica e social.

Política

Politicamente, esta é uma região conturbada, em que os governantes apresentam níveis democráticos baixos e níveis de corrupção elevados. Contudo, analisemos a situação política de cada país. Começando pelo Afeganistão, a mesma é, talvez, a mais preocupante em termos de volatilidade. Os resultados incertos das negociações de paz em curso em Doha levantam questões sérias sobre a durabilidade de um potencial acordo de paz. Neste sentido, os jovens representam uma mudança geracional perante as elites do país significativa, uma vez que os mesmos cresceram com maior acesso à informação, através das plataformas digitais e, portanto, aparentam ser cruciais para que um acordo de paz possa lograr. Ainda, um outro aspeto a ter em consideração é a potencial retirada dos EUA deste país de forma definitiva, o que poderá mergulhar o país numa guerra civil e num caos sem precedentes (num contexto em que as forças de segurança e militares afegãs não se encontram suficientemente preparadas para lidar com este tipo de adversidades). No caso do Bangladesh, o ano de 2020 tornou patente o ressurgimento da importância da religião na política, assim como o crescente autoritarismo do governo deste país: a censura aos media incrementou, as liberdades pessoais têm sido cada vez mais restringidas, particularmente desde a adoção da Lei de Segurança Digital. O Butão, por sua vez, viu o seu papel no cenário internacional fortalecido, à medida que este país tem vindo a reduzir o seu isolamento histórico, estabelecendo relações diplomáticas com um maior número de países, como é o caso da normalização de relações diplomáticas entre Israel e o Butão que poderá servir de precedente para o estabelecimento de futuras relações diplomáticas com outros países. Prosseguindo para um dos atores mais importantes da região, a Índia, verifica-se que, politicamente, o ano de 2020 foi  tumultoso para este país, das disputas geopolíticas com a China nos Himalaias ao crescente autoritarismo do presidente Narendra Modi. Foram vários os protestos que se fizeram sentir, em parte devido ao aumento do nacionalismo e do fortalecimento do sistema de castas, colocando a tónica assente na distinção entre muçulmanos e indianos, ao aumento da censura, à detenção de ativistas, entre outros aspetos. Prosseguindo, o próximo caso é o das Maldivas: com a crescente importância do Indo-Pacífico, potências como os EUA ou a China tentam ganhar influência neste região. Os EUA, por exemplo, formalizaram um acordo com as Maldivas para estreitar laços com as Maldivas, enquanto que a Índia reforçou a cooperação entre estes dois países no ramo da defesa. Prosseguindo, o Nepal, a nível político, encontra-se cada vez mais fragmentado, e a unidade dentro do partido governante (NCP) revela-se tensa e existem tensões institucionais internas. Seguidamente, temos o caso do Paquistão. O primeiro-ministro Paquistanês, Imran Khan, enfrenta cada vez mais uma oposição unificada, inclusive dos militares. A oposição já exigiu a demissão do primeiro-ministro e tem protestado cada vez mais devido ao crescente envolvimento do setor militar na política. Por fim, temos o caso do Sri Lanka. Após a vitória do partido do presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, o mesmo rapidamente nomeou o seu irmão mais velho, Mahinda, como primeiro-ministro, permitindo um quadro institucional do qual saiu um reforço dos poderes do presidente e a um aumento do autoritarismo neste país.

Previsão: Devido à pandemia de covid-19, espera-se que continuem os protestos e tumultos que assistimos ao longo deste ano, particularmente na Índia e no Paquistão.

Previsão: No caso do Paquistão, o primeiro-ministro Imran Khan não deverá conseguir manter o poder, sendo forçado a demitir-se ou existindo um cenário mais violento de destituição.

Previsão: O autoritarismo deverá continuar a recrudescer e não deveremos assistir a grandes reformas políticas no sentido democrático.

Economia

Algumas destas economias, como é o caso do Butão e das Maldivas, apresentam uma economia altamente dependente do turismo. A pandemia de covid-19 afetou severamente estes países, devido às restrições de viagens e aos confinamentos sucessivos que foram impostos. No caso das Maldivas, o país tentou, sem sucesso, ultrapassar a crise económica através da abertura das fronteiras e empréstimos provenientes da Índia. O Butão foi um caso de sucesso que no que toca à reivenção da economia do turismo, tendo o país tomado medidas inovadoras que permitem que os turistas continuem a visitar o país em segurança, sem que haja um aumento exponencial no número de casos de covid-19, como a permissão de entrada de turistas que tenham um teste covid-19 negativo, não necessitando de fazer quarentena, mas que ainda assim não podem ter contacto com os habitantes locais e existem destinos e caminhos especiais para estes turistas. As maiores economias, como a Índia e o Paquistão, também foram significativamente afetadas pela pandemia de covid-19. A outrora vibrante economia indiana, que nos últimos anos tem assistido a um crescimento sucessivo, vê-se a braços com uma grave crise económica e social, com o nível de desemprego a aumentar. Para além disso, a vacinação revela-se uma tarefa complexa a nível logístico, devido à imensa população que a Índia representa. Também a economia paquistanesa se encontra nesta situação, com uma grave queda nas importações e nas exportações e com uma situação pandémica complexa. Por fim, os restantes países-Afeganistão, Sri Lanka, Nepal e o Bangladesh aparentam situações internas voláteis e economias muito dependentes do exterior. Os constantes conflitos no Afeganistão não permitem uma estabilização económica neste país, tal como é o caso também do Bangladesh, a braços com uma crise humanitária e securitária complexa.

Previsão: Recuperação muito lenta, com níveis de crescimento negativos ou quase negativos durante o primeiro semestre de 2021, com uma ligeira recuperação, embora pouco significativa, a partir do segundo semestre de 2021.

Previsão: A Índia e o Paquistão, as maiores economias da região, terão uma recuperação particularmente lenta, devido às conturbadas situações políticas com que cada país se depara.

Previsão: Recrudescimento dos níveis de desemprego e da pobreza, um problema que assola, de forma generalizada, esta região.

Alterações climáticas

Acrescento este tópico dado que estes países são dos mais afetados no mundo pelo fenómeno das alterações climáticas. O Bangladesh, por exemplo, é constantemente atingido por ciclones e pelo aumento do nível do mar, o que leva a que muitas populações tenham que se deslocar e a abandonar as suas habitações. As Maldivas, sendo um país insular, é bastante vulnerável ao aumento do nível do mar, algo que tem prejudicado a economia e a integridade territorial deste país.

Previsão: O incremento deste fenómeno deverá levar a cada vez mais convulsões internas e a crises humanitárias e territoriais.

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