Forecast América do Sul

A América do Sul e sua história conturbada revelam um caráter específico no interior do sistema político dos seus países. Desde o início do processo de exploração colonial até as ditaduras financiadas pelos EUA, no contexto da guerra fria, provocaram o enfraquecimento das instituições democráticas e estruturaram sistemas socioeconômicos profundamente desiguais e dependentes (Teoria da dependência). Por consequência, nasceu uma vigorosa esquerda latino americana, com seus massivos movimentos sociais, que tornaram o centro de combate ao neoliberalismo na região.

No entanto, num cenário contemporâneo, notou-se um breve período do enfraquecimento dos líderes socias e das instituições democráticas na região, facilmente identificados pelos seguintes acontecimentos: A eleição à presidência de Mauricio Macri na Argentina em 2015; Golpe de Estado em 2016 no Brasil e posteriormente em 2018 a eleição à presidência de Jair Bolsonaro; A crise política Venezuelana; A queda de Evo Morales do poder. Contudo, é notável que a partir de 2019 a esquerda sul-americana voltou a reconsolidar-se com a eleição de Alberto Fernández na Argentina e com os protestos contra o neoliberalismo no Chile. Analiso que esta uma tendência política que permanecerá na conjuntura política de 2021.

O subcontinente sul-americano em 2020 foi intrinsecamente afetado pela pandemia do Corona vírus, causando uma acentuada recessão económica, aumento das despesas públicas e o aprofundamento das desigualdades sociais.  No âmbito da política internacional, notou-se a degradação diplomática entre os países vizinhos, principalmente entre Brasil e Argentina. O desgaste das relações internacionais, causada pelas diferenças ideológicas, simultaneamente com o cenário pandémico, paralisaram a ratificação do Mercosul no tratado de Livre Comércio com a União Europeia. Ressalto que o acordo possibilitaria o reaquecimento no desenvolvimento económico na região em 2021.

Em 2021 os danos socioeconómicos manter-se-ão, a seguir ao declínio de 9% em 2020, apresentando o acréscimo de 40 milhões de indivíduos na linha da pobreza. Após a paralisação na produção espera-se o empenho na retomada do crescimento, conduzida principalmente pelo Brasil, aspirando dobrar o que foi produzido em 2020, meta a qual pelos indícios observados não será cumprida. O aumento das despesas públicas a fim de amenizar os efeitos sociais negativos da pandemia, levaram o aumento deste déficit económico em toda América do Sul.  Segundo a base de dados COVID-19 Economic Estimulus Index, o subcontinente sul-americano apresentou em média 6,3% em gastos públicos do PIB, sendo o Brasil, o país da região com mais gastos. Por conseguinte, espera-se para 2021 uma maior atuação do FMI nessas áreas, e caso não ocorra reformas tributárias ou delimitação dos gastos o IDE deverá entrar em declínio na região.

A redução da despesa pública afetará diretamente a assistência social em países como a Argentina, Brasil e Colômbia, que terão como resultado protestos civis liderados por grupos políticos de esquerda. Facto que afetará diretamente as eleições presidências de 2021 no Chile e Peru, com a possível vitória de líderes de esquerda. Ressaltando que na República do Chile em paralelo às eleições presidenciais, irá ocorrer a elaboração de uma nova Constituição, voltada ao bem-estar social e aumento do papel do Estado, sepultando assim a antiga constituição liberal do ditador Pinochet.

Previsões dos países mais influentes na região:

Argentina

A economia argentina em 2021 deverá recuperar, mas de forma moderada. O país apresenta uma inflação altíssima e políticas potencialmente hostis ao mercado, como a taxação de fortunas, que retardarão o crescimento económico para 2021. Portanto, nota-se que no âmbito político para 2021 o presidente Alberto Fernández constituirá uma agenda progressista na Argentina, mantendo o posto atual de vanguarda na América do Sul. As eleições legislativas que acontecerão neste ano irão expor e acentuar a força política do atual presidente argentino.

Brasil

Prevê-se em 2021 uma recuperação económica acentuada a nível de produção, correspondendo uma retomada à normalização da procura no mercado externo e interno. O Brasil em 2020 elevou a sua dívida pública e atingiu uma taxa recorde de 14,6% de desempregados (14,1 milhões de pessoas), desta forma os investidores esperam medidas de controle fiscais, como a reforma tributária. No entanto, o atual presidente Jair Bolsonaro com sua desastrosa capacidade governativa, tem atrasado a retomada da produção devido a ausência de um plano de vacinação a nível nacional. Dificilmente o governo cumprirá com as expectativas do mercado com reformas tributárias, pois o presidente busca aumentar sua popularidade por meio de conchavos políticos no congresso nacional, aspirando sua reeleição em 2022. Portanto, com um cenário político conturbado, o crescimento económico para 2021 será baixo.

Chile

A economia chilena sempre se mostrou estável, no entanto desde 2019 com o abalo sistémico causado pelos protestos populares contra a Constituição liberal, juntamente com o cenário pandémico, desaceleraram o ritmo de crescimento económico em 2020 no País.  Em 2021 prevê-se uma recuperação considerável da economia, devido ao enfraquecimento fiscal interno que será imposto pelo governo chileno. No entanto, estará presente um cenário de instabilidade política, sustentada pelas eleições presidenciais e a determinação de uma nova Constituição, desacelerando o crescimento do PIB. No âmbito das eleições presidenciais chilenas em novembro de 2021, espera-se a vitória do candidato Daniel Jadue (PCCh) devido a sua grande popularidade, contra o conservador e ex-assessor de Pinochet, Joaquín Lavin.

Venezuela

A fatídica República Bolivariana da Venezuela, caracterizada pelo seu regime ditatorial e conflitos políticos com os EUA entrará numa nova fase de antagonismo governamental. Visto que em janeiro de 2021 o oposicionista de Nicolás Maduro, Juan Guaidó, deixará seu cargo de presidente da Assembleia Nacional, causando o enfraquecimento no poder de oposição ao atual regime. Economicamente a Venezuela encontra-se enfraquecida após os embargos comerciais, impostos pelos EUA durante o governo de Trump, contudo estas medidas mostraram-se insuficientes para destituir Nicolás Maduro do poder. Consequentemente em 2021, com a nova governança americana liderada pelo democrata Joe Biden, prevê-se uma nova estratégia, baseada na diplomacia e na redução do embargo económico, o que beneficiará exponencialmente as exportações e a economia Venezuelana de 2021.

Embora de acordo com G.K Chesterton, que única lei da história é o imprevisto, consideramos que em 2021 irá ocorrer uma moderada recuperação económica, apesar da permanência de conflitos políticos na região.

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