Forecast Médio Oriente/Norte de África

O ano de 2020 foi, globalmente, um ano no qual muitos países se depararam com situações de crise económica, política e social. A região do Médio Oriente e Norte de África (MENA), não é uma exceção, sendo que aqui as dificuldades económicas se fizeram sentir de forma mais exacerbada. Esta região, berço das três maiores religiões monoteístas e de várias civilizações foi, desde os primórdios da humanidade, considerada uma região estratégica. Contudo, foi a partir do século XX, particularmente com o advento da Guerra Fria, que a importância estratégica desta região aumentou no palco internacional, devido à crescente produção de petróleo que vários países da região vinham a conceber e ao seu papel cada vez mais predominante no Sistema Internacional e nas suas dinâmicas.

Esta área geográfica, como a conhecemos hoje, surgiu após a primeira guerra mundial, aquando da queda do Império Otomano e da sua desagregação, surgindo dele vários novos Estados. Um outro marco significativo na história da região foi a segunda guerra mundial e os acontecimentos que se seguiram, nomeadamente a criação do Estado de Israel, em 1948, a  Guerra Fria e a descolonização, particularmente dos Impérios Britânico e Francês. Esta região voltou a estar no centro da política mundial após a Guerra do Golfo, em 1991, na qual uma coligação liderada pelos Estados Unidos da América, ao abrigo das Nações Unidas, usou a força para libertar o Kuwait, que tinha sido anexado pelo Iraque sob o comando de Sadam Hussein. Por fim, e talvez os marcos recentes com maior importância na região, foram a invasão do Iraque, em 2003, que alterou as dinâmicas desta zona de forma expressiva através do combate ao terrorismo; a Primavera Árabe, em 2011, sendo que inicialmente se julgava que dela sairiam novas formas de governo mais pluralistas e democráticas, algo que não aconteceu. Por fim, a guerra da Síria, que se iniciou em 2011 e que começou por ser uma guerra civil, mas posteriormente internacionalizou-se, estando presentes nela vários atores externos como a Rússia, os Estados Unidos da América e a Turquia.

Economia

Estes países, na sua maioria, têm economias dependentes da produção e exportação de recursos naturais, nomedamente petróleo e gás natural. É nesta região que se concentram 60% das reservas mundiais do petróleo e os principais países exportadores são a Arábia Saudita, o Iraque e os Emirados Árabes Unidos (EAU). Foi por este motivo que, em 1960, se reuniram as condições económicas, sociais e políticas para criar um dos maiores cartéis do mundo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Apesar da dependência que estes países têm relativamente a estes recursos naturais, alguns têm feito um esforço no sentido de tentar diversificar a sua economia. Nesta região, a atividade industrial aparenta ter um menor desenvolvimento, pautando-se pela existência de refinarias e indústria petroquímica. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são exemplo dessa tentativa, e verificamos que, se há uma década atrás o petróleo correspondia a 85% do PIB destes países, neste momento corresponde a cerca de 30%. Esta diversificação tem-se dado, essencialmente, através do setor do turismo e da construção de hóteis de luxo e atração de turistas, polos de atração de startups, o fomento da indústria, a criação de incentivos para a concretização de Investimento Direto Estrangeiro, sendo que já existem muitas multinacionais presentes nestes países. Esta diversificação está, assim, mais presente nos países do Golfo Pérsico, com destaque para a Arábia Saudita e os EAU. No caso do Norte de África, verifica-se que esta evolução e esta diversificação não está tão patente. Constata-se, por exemplo, que no caso da Líbia, da Tunísia, da Argélia e do Egito, a exploração de petróleo permanece como sendo a principal atividade económica. O turismo é também relevante, particularmente em países como o Egito, cuja herança cultural faz deste país um polo de atração de turistas. Para além disso, embora a atividade agrária seja secundária, no Magrebe e no Vale do rio Nilo ainda se encontram cultivos de frutas cítricas, tâmaras, algodão, entre outros produtos.

Ora, o ano de 2020 veio alterar significativamente esta paisagem. Devido à pandemia de covid-19, os países exportadores de petróleo, mais especificamente durante a primeira vaga da pandemia, sofreram consideravelmentee termos económicos, uma vez que o preço do petróleo caiu para mínimos históricos assim como a sua procura. Ora, embora exista a tentativa de diversificar a economia destes países, este é um processo que apenas poderá decorrer no longo prazo e, por isso, dada a dependência que ainda aparentam perante as oscilações da oferta e da procura dos recursos naturais, estes países deparam-se com uma crise económica.

Previsão: Recuperação lenta no primeiro semestre de 2021, com uma aceleração no segundo semestre mais acentuada, embora ainda de forma lenta.

Previsão: Aceleração da necessidade de diversificação económica, particularmente nos países que já tinha encetado este processo, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e, até certa extensão, a Tunísia.

Conflito Israelo-Palestiniano e as relações entre Israel e as nações do MENA

O ano de 2020 foi um ano crucial no desenvolvimento das relações entre Israel e algumas nações árabes, nomeadamente os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, precursoras do fomento desta relação através dos Acordos de Abraão, embora a estes países se tenha seguido o Sudão e Marrocos. Neste contexto, o presidente norte-americano, Donald Trump, colocou a tónica na definição dos seus aliados aquando da sua primeira visita oficial ao estrangeiro: algo sem precedentes na história dos EUA, Donald Trump não visitou o México, o Canadá, o Reino Unido ou outros aliados da NATO, mas sim Israel e a Arábia Saudita. Esta aliança vincada com estes países tornou-se notória quando se confirmou o assassinato do jornalista Jamal Kashoggi por parte da Arábia Saudita e a consecutiva inércia da admnistração norte-americana no que toca à condenação deste ato.

O conflito israelo-palestiniano conheceu várias guerras, e parece ser um conflito sem fim. Embora tenham havido desenvolvimentos importantes numa tentativa de atingir a paz entre estes dois territórios, nomeadamente nos anos 90, com a assinatura dos Acordos de Oslo e a consequente criação da Autoridade Palestina, neste momento tal objetivo parece inatingível. Os Acordos de Abraão poderiam de facto ter um impacto significativo na região e neste conflito caso existissem contrapartidas para Israel na normalização das relações com outros Estados árabes, como a cedência de alguns territórios entretanto conquistados por Israel. Contudo, tal não se verificou e a a maioria das nações árabes parecem encontrar-se no caminho da normalização das relações com Israel.

Previsão: Outras nações árabes poderão seguir o caminho da normalização e irão existir mais acordos bilaterais entre Israel e os países que já estabeleceram relações formais com Israel, como os EAU. A Arábia Saudita, à exceção do Irão que não se espera que o faça, será o país que poderá colocar mais entraves à normalização das relações com Israel devido à sua liderança conservadora e ligada a valores teocráticos.

Previsão: A Palestina perderá vários aliados, isolando-se no mundo árabe, contando apenas com alguns Estados, como a Jordânia, na sua luta contra Israel.

Política

Como é sabido, a região do MENA é uma das regiões com lideranças políticas mais autoritárias e onde os valores religiosos têm grande predominância, particularmente no caso das teocracias do Irão, Arábia Saudita e Afeganistão. Contudo, esta não é uma região homogénea em termos políticos, verificando-se uma variedade de formas de governo: existem monarquias, como é o caso da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, da Jordânia, entre outras; nacionalismo árabe, como é o caso da Síria e do Egito; repúblicas parlamentares, como é o caso do Líbano, Turquia e Iraque; por fim, a democracia parlamentar está presente em Israel.

Neste sentido, desde a Primavera Árabe, esperava-se que esta região fizesse uma evolução no caminho da democracia, semelhante à democracia existente no ocidente, porém, o que se verificou foi um recrudescimento do nacionalismo e do autoritarismo. O ano de 2020, à semelhança de 2019, foi um ano em qu surgiram vários protestos, particularmente no Iraque, no Líbano, na Argélia, no Egito e em Israel.

Previsão: A situação política não se deverá alterar de forma significativa, sendo que se espera que o autoritarismo continue a vigorar na maioria dos países, com especial destaque para o Irão e para a Arábia Saudita.

Previsão: Os protestos deverão continuar, embora de forma menos acentuada, dada a recuperação gradual que estes países deverão fazer economicamente durante o ano de 2021, sendo mais focados no Norte de África.

Faça o primeiro comentário a "Forecast Médio Oriente/Norte de África"

Comentar

O seu endereço de email não será publicado.


*