A Europa Ocidental, em virtude da sua configuração política a nível dos estados e supra-estadual, revela-se numa das regiões mais complexas no sentido de compreender a sua direcção de desenvolvimento. O facto de que a maioria dos seus países constituintes faz parte da União Europeia, mas simultaneamente possui as suas agendas individuais, frequentemente antagónicas, é um factor de atrito perene na região. Este é um dos temas que será visitado neste forecast – a emergência de culturas políticas distintas com a expansão da UE, bem como de objectivos estratégicos contraditórios entre os seus actores deixou os apologistas de uma “more perfect Union” à procura de respostas, erguendo a questão de se o Fim da História anunciado não seria apenas uma miragem. Estas dúvidas provavelmente não serão respondidas em 2021, mas vários desafios deverão emergir, fruto do passado recente, mas também de antigas cicatrizes profundas que ainda marcam a consciência colectiva do velho continente, ainda que, convenhamos, materialmente o continente esteja mais interdependente que nunca. No eterno debate entre ideias ou condições materiais como veículo da história, temos pelo menos a percepção de que as ideias frequentemente se avivam quando as condições materiais assim o veiculam, e daí que as assimetrias em crescendo e a fraca resposta do velho continente à crise de 2008, de resto, da qual ainda não recuperou a nível económico e social, têm vindo a alimentar movimentos sociais e uma nova emergência dos outrora esquecidos nacionalismos e do radicalismo político.
A Europa de 2021 não antecipa conflitos armados, apesar de pequenos focos de tensão internacional que emergem ocasionalmente na sua periferia e limitam a acção dos elementos do continente. Talvez as suas maiores fracturas sejam a nível intra-estadual, como no caso da Catalunha, que tem vindo num percurso de afastamento da direcção de Madrid, como também a instabilidade sentida em França que se debate com crises sociais e ao mesmo tempo com necessidade de revitalizar a sua economia, e também os contrastes políticos na Polónia, dividida entre o progressismo social e as políticas do actual presidente Andrzej Duda. O elemento decisivo no destino do continente será a forma como a Alemanha navega a recuperação, algo que já foi indiciado que iria proceder de uma revisão a nível da estratégia fiscal em face da necessidade, dado que este estado contou, nos últimos 10 anos com um excedente comercial tremendo e uma margem de manobra orçamental que lhe permitiu assumir os compromissos assumidos a nível da própria constituição de não recorrer a deficit spending. Esta abordagem caiu por terra dada a reformulação do comércio internacional em curso e as consequências económicas da Covid-19, e este investimento poderá ser o início de uma nova fase na dinâmica económica da União. Afinal, a Alemanha apenas poderá sustentar as suas exportações se os seus mercados destino tiverem capacidade financeira para as absorver, pelo que o incentivo existe. Este também será um dos grandes motores que levou à conclusão do acordo comercial com a China, mas cujo desenvolvimento neste momento ainda é incerto dada a complexidade das negociações comerciais no que toca à UE.
Brexit
O tema do Brexit dominou os assuntos da área europeia durante o ano de 2020, sendo esse ano o limite para a saída do Reino Unido. Apesar de ser um tema fracturante, não esperamos assistir a um cenário catastrófico – a postura será, no nosso entender, de corrigir as questões que irão surgindo, particularmente a nível do comércio bilateral, onde mais está em jogo, e que gradualmente a situação se aproxime do status quo ante, com um caveat: é esperado que a política externa britânica se aproxime mais da americana, e poderemos assistir progressivamente a uma reformulação do Reino Unido como um estado atlântico intermédio entre o eixo europeu e norte-americano.
Previsão: Manutenção do status quo
Economia
A recuperação da Covid-19 e as políticas de estímulos postas em prática pelas instituições nacionais e supra-nacionais que regem a economia do continente poderão surtir efeitos durante este período. Entendemos que a recessão anunciada poderá não chegar a acontecer, apesar de alguns riscos sistémicos e de problemas latentes no sector da banca (herança de 2008) em alguns estados, e que um leque de investimentos na renovação da infraestrutura do continente poderão surtir efeitos altamente positivos. As políticas monetárias dos últimos anos podem potencialmente levar a uma acumulação de riscos financeiros com consequências nefastas a prazo, mas esse cenário aparenta estar longe no imediato, e o ano de 2021 poderá ser um ano de recuperação, lenta a início, e na segunda metade do ano mais acelerada.
Este processo deverá ser acompanhado também por uma manutenção da tendência migratória para o continente, que beneficiará da vinda de mão de obra estrangeira à procura de oportunidades para rejuvenescer uma demografia envelhecida.
Previsão: Recuperação económica lenta na primeira metade do ano, mais rápida na segunda metade.
Previsão: Migração de entrada no continente
Clivagens na UE
Um ponto recorrente na Europa Ocidental, sobretudo nos últimos 5 anos, é o agravamento das assimetrias Norte-Sul pelo lado económico, onde o Sul sai como claro perdedor, e também a emergência das culturas políticas distintas nos membros mais recentes, que se beneficiam de economias em fase de franco desenvolvimento, ainda se debatem com democracias frágeis, algo que seria um ponto crítico na acessão à UE. A reorientação da Alemanha face à crise actual levará a uma ligeira inversão da tendência dos últimos anos, e o investimento que antecipamos que dê bons resultados a nível económico irá adiar os maiores problemas a nível destas divisões, com a gradual recuperação económica a tomar o primeiro plano face às agendas individuais dos estados.
Previsão: A recuperação económica irá adiar as clivagens que se fazem sentir pelo continente, seja no eixo económico Norte-Sul, como também a nível dos diferendos políticos entre o eixo franco-alemão e os países do leste europeu.
Faça o primeiro comentário a "Forecast Europa Ocidental"