Geopolítica Digital, parte I

A tecnologia desempenhou sempre um papel determinante na evolução humana, não só enquanto espécie, como também em matérias do sistema internacional. As três grandes revoluções económicas demonstram a sua importância, e em como a política e a organização social mudou de trâmites.

A revolução Agrícola, que teve lugar no Crescente Fértil, China, América Central e Este Norte-americano, permitiram a transição do Homo Sapiens de um nómada caçador-recolector, para a produção agrária e como tal para o sedentarismo, apenas possível pelas condições geográficas destes locais. Foi o primeiro grande passo para evolução social que culminaria no que hoje conhecemos, e que irá continuar no futuro. O aparecimento de tecnologia e a sua propagação surge em locais geográficos específicos, precisamente por razões geográficas. A tecnologia surge de duas formas, sendo elas inovação ou transferência sendo esta última a mais frequente, quando determinadas condições são reunidas, como Jared Diamond argumenta no seu livro Armas, Germes e Aço, explicando que o elemento chave para a inovação se trata da competição entre vários grupos e que muitas tecnologias chegam através de observação e aquisição do que emerge num determinado grupo como uma ideia nova, e, por esta mesma razão argumenta que foi o factor determinante para os euroasiáticos terem sido quem tomou a iniciativa da “descoberta” do mundo.

Enquanto que a revolução agrícola se tratou de uma transição marcante para a forma de organização política da espécie, a Revolução Industrial influenciou o panorama geopolítico de forma drástica e, consequentemente, o Sistema Internacional.

A Primeira Revolução Industrial, que teve lugar entre 1760 e 1840 no Reino Unido, ocorre com o aparecimento da máquina a vapor, novas ferramentas, especialmente na indústria têxtil, aumentando a capacidade de produção e a produtividade, tendo consequências para o estilo de vida nas ilhas britânicas. A alteração da manufactura para a indústria e a utilização de máquinas para a produção, juntamente com a criação de novos trabalhos, levou a um êxodo rural para as novas cidades industriais onde esta produção era mantida, levando ao principal ponto deste marco histórico, em que a qualidade de vida aumentou exponencialmente no Reino Unido, na generalidade da população. Historicamente, existe uma relação direta entre a disponibilidade de alimento e o aumento populacional, logo com a introdução da máquina a vapor, que surgiu através de Thomas Savery, que criou uma bomba de água para retirar águas das minas, e só depois deu origem à locomotiva, o transporte e as novas tecnologias de agricultura, permitiram uma aumento da produção, levando consequentemente ao aumento populacional no Reino Unido. Juntado estes factores, encontra-se a razão para o domínio britânico durante este século. Foi também durante este período que a criação de identidades e de nacionalidades iniciou o processo de criação de nações com a revolução francesa e americana, passando de uma organização imperial de pequenos povos para o contratualismo na veia de Rousseau. É no final do séc. XIX que surge o novo conceito, criado por Rudolf Kjellen, de “Geopolitics”, para descrever a mudança que ocorreu após a revolução industrial, e pela criação do novo império alemão.

A Segunda Revolução Industrial no século XIX trouxe outras tecnologias que mudou o paradigma da sociedade – a eletricidade e o telefone. A produção em massa tornou-se possível, as comunicações ligaram o mundo e as viagens tornaram-se mais rápidas com o motor de combustão, não esquecendo se acreditava que a nova interdependência económica iria acabar com as guerras. Mackinder surge neste contexto com a ideia de Heartland, resultaram duas Guerras Mundiais neste seguimento.

A terceira Revolução, conhecida como Revolução Digital e que teve lugar a meio do século XX, é onde surgem os computadores e onde numa sequência rápida de pequenas inovações, surgem semicondutores, computadores pessoais, internet e chegamos ao paradigma atual. Não nos podemos esquecer que esta revolução acontece enquanto capitalismo e comunismo travam uma batalha ideológica através da constante ameaça nuclear, a invenção que marcou esta fase até à queda do Muro de Berlim.

Iremos explorar na parte II os diferentes passos dados neste sentido, que nos permitirão perceber a sua importância na “nova” geopolítica digital.

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