Duas recomendações de leitura: Geopolítica russa e comércio internacional

The Last War of the World Island, por Alexander Dugin

Um tópico recorrente na área da geopolítica é a questão russa. Do ponto de vista da Europa Ocidental, a Rússia e as suas iterações políticas anteriores, nomeadamente a União Soviética, é vista, salvo alguns interlúdios históricos, como o agente que mais coloca em causa o projecto liberal europeu, ou no mínimo uma ameaça latente. Alexander Dugin traz-nos uma perspectiva distinta, ele que foi apelidado de “o cérebro de Putin”, onde o centro de gravidade está precisamente na Rússia.

Herdeiro do Eurasianismo tradicionalista e continentalista de autores que o antecederam, predominantemente Lev Gumilev, mas também de conhecidas concepções geoestratégicas como o Heartland mackinderiano, Dugin começa por introduzir uma contextualização histórica da Rússia e dos seus antecedentes estratégicos, bem como do que ele identifica como sendo o processo de enfraquecimento da mesma durante o século XX e das suas sucessivas perdas de influência, naquela que ele entende como sendo a potência continental por excelência e que deve, como imperativo estratégico, consolidar-se sob um como que “ecumenismo conservador” – empreitada da qual dependerá, na sua óptica, a sobrevivência da Rússia como a conhecemos.

Sendo uma figura controversa, como demonstram as afirmações sobre a questão ucraniana que o levaram à expulsão da Universidade Estatal de Moscovo, não deixa por isso de propor ideias evocativas. Eventos como o Brexit, ideia que o próprio imaginou mais de uma década antes de se materializar, levam-nos a pensar se de facto este projecto não estará a ser colocado em prática e a dar frutos.

The Great Rebalancing, por Michael Pettis

Este título, cujo autor é professor de finanças na Universidade de Pequim, leva-nos a visitar a história da economia, e como certos padrões históricos se têm vindo a repetir, recaindo o foco do livro sobre o rescaldo da crise de 2008. Imbuído de uma visão histórica excepcional, em oposição a uma concepção puramente técnica, Pettis analisa os grandes casos de desequilíbrios financeiros que geram crises: como práticas pró-exportações sacrificam a procura interna a troco de competitividade a nível internacional, e como os fluxos financeiros que distorcem os mercados internacionais geram um equilíbrio precário que a prazo tem forçosamente de ser resolvido. Salários, taxas de poupança, endividamento e os grandes milagres económicos do século XX e XXI são colocados sob a lupa, mas também a questão do dólar e dos custos implícitos para a economia americana que a sua utilização como moeda de referência acarreta.

Apesar de ser um livro fundamentalmente de economia e finanças, é uma leitura acessível para leitores de outras áreas, o que é uma mais valia, dado ser uma área essencial sobretudo para as RI.

Recentemente, foi publicado um novo livro da autoria de Michael Pettis e Matthew C. Klein, sob o título “Trade Wars are Class Wars”. Dentro da mesma perspectiva, é um livro que se debruça na situação actualizada do comércio internacional, em particular com o eclodir da guerra comercial EUA-China, e das mesmas dinâmicas de fluxos de bens e capitais que “The Great Rebalancing” ilumina como geradoras de desequilíbrios crónicos, que inevitavelmente terão de ser resolvidos. Iremos visitar este título posteriormente.

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