Autor em revista: Tim Marshall

Um dos autores que se tem feito notar na área da política internacional é Tim Marshall. Jornalista de profissão, com uma longa carreira que inclui a presença durante o conflito na ex-Jugoslávia e mais tarde na crise do Kosovo, o percurso de Marshall faz dele um jornalista de linha da frente por excelência. No entanto, seria seguro assumir que enquanto tal, o seu primeiro compromisso não é com as Relações Internacionais como disciplina científica. Assim sendo, porquê ler Tim Marshall?

Talvez a obra mais conhecida do autor seja “Prisioneiros da Geografia” (Prisoners of Geography). Com um título evocativo, este livro foi motivado pela experiência do autor nos Balcãs, onde constatou que as milícias locais entendiam a importância do relevo para a sua estratégia. Tal pode não parecer tão óbvio, num mundo hiperconectado e onde as estradas parecem chegar a todo o lado, mas a geografia faz parte essencial do pensamento humano desde os seus primórdios. Neste trabalho, o autor realça o quanto barreiras naturais ou a ausência das mesmas, ou as próprias características do território influenciam a política internacional, condicionando a concepção e a materialização de políticas internas.

O exemplo mais ilustrativo será talvez o caso da Rússia. É da geografia que nasce a necessidade expansionista da era imperial, ou da criação de zonas tampão (buffer zones), ou seja, utilizar o espaço como barreira extensiva, pois o heartland russo não dispõe de barreiras naturais que possam deter invasores. Esta realidade é corroborada pelo número de incursões que já se fizeram em território russo, o que faz com que os factos se aliem à teoria. Não se restringindo a questões geográficas, o autor também menciona a crise que está em processo no país, que caminha a passos largos para ser uma das populações mais envelhecidas do mundo, e cuja estrutura demográfica apenas fará com que a situação se agrave nas próximas décadas, o que mais uma vez coloca constrangimentos estratégicos no imediato e a prazo. Outras regiões de relevo que o autor aborda e que valerá a pena consultar são a China, o Médio Oriente, Índia e Paquistão, entre outros, alguns dos quais agora parecem mais importantes do que nunca.

Prisioneiros da Geografia é um exercício de pensamento no debate Agente-Estrutura, mas não só. Ajuda-nos a compreender o mundo em que vivemos e porque as coisas acontecem da forma que acontecem. Para tal, faz recurso da experiência do autor no terreno, mas também se serve de inúmeras fontes fidedignas das quais se serve para fundamentar os seus argumentos – uma espécie de leitura suplementar -, algo que será certamente do agrado daqueles que gostam de ir mais a fundo e contextualizar, e que confere solidez ao trabalho e valor para um leitor da área das ciências sociais, constituindo por isso sendo um trabalho de consulta e de referência.

Não saindo muito do tema, “Worth Dying For – The Power & Politics Of Flags” é um título que fala por si. Com o nacionalismo novamente em voga nos temas internacionais, a questão das bandeiras e o que representam torna-se mais pertinente. Existem questões simbólicas, históricas, identitárias, e de mobilização política que motivam a escolha de bandeiras, como o tricolor do pan-arabismo do Egipto, Síria e Yemen, ou a presença de uma AK-47 na bandeira de Moçambique. Este será um excelente complemento para o primeiro título, ao permitir sobrepor geografia política ao conhecimento da morfologia do território.

Estas são duas sugestões que achamos ser actuais e de relevo para a área científica de RI, sobretudo pelo seu valor elucidativo e pela forma como nos dão uma perspectiva de como funcionam mecanismos que marcam inevitavelmente a ordem do dia.

Faça o primeiro comentário a "Autor em revista: Tim Marshall"

Comentar

O seu endereço de email não será publicado.


*