Sobre o Cinema Sinófono

No que toca ao cinema não-anglófono, é muito raro algum título penetrar a bolha do que é considerado “mainstream” no ocidente. Sabemos que a Índia e a Nigéria têm das indústrias cinematográficas mais produtivas do mundo, tanto em termos de lucros como de volume de títulos produzidos, o que não se traduz necessariamente em reconhecimento internacional. Isto não exclui que o essencial esteja além do óbvio – o cinema indiano é massivamente popular fora da Índia, notavelmente no Afeganistão, e a série turca “Resurrection: Ertugrul”, actualmente na Netflix, tem sido um sucesso estrondoso no Paquistão, algo que nos leva a repensar a forma como entendemos a difusão de cultura e as suas implicações para o mundo em geral.

Da Ásia Oriental, o Japão tem sido a excepção nesta área, embora marcadamente através das suas animações (e ainda que tenha uma indústria cinematográfica de elevada qualidade), e recentemente vimos um título sul-coreano conquistar o Óscar de melhor filme. No entanto, o cinema de língua chinesa tem uma antiga tradição que se tem mantido na penumbra nos últimos anos. É aparente, sobretudo na China continental, a tendência para produzir filmes de grandes orçamentos, com mais investimento em visuais para impressionar do que em substância – embora se possa dizer que este fenómeno é conhecido de quem segue Hollywood, que tem produzido título após título rico em efeitos especiais, em detrimento do conteúdo. A realidade é que a arte não ganha com o sacrifício de autenticidade.

Um nome que se tem feito notar recentemente, sobretudo dado certos desenvolvimentos no tema das relações internacionais, é a série de filmes “Wolf Warrior”, com uma estética que evoca os filmes de heróis de guerra americanos e que tem sido utilizada nos media para fazer referência à postura do corpo diplomático da República Popular da China. No entanto, queremos trazer aqui outras referências, sobretudo no cinema de culto e que coloque em destaque a qualidade das produções de outras paragens.

In the Mood for Love (2001) é um filme consagrado pelas suas técnicas de realização e pela performance dos actores principais, que com uma mestria notável da nuance nos envolvem como espectadores das suas vidas. Mr. Chow (Tony Leung Chiu-wai) e Su Li-zhen (Maggie Cheung Man-yuk) descobrem que os respectivos parceiros estão envolvidos numa relação adultera, e gradualmente se envolvem de forma romantica, à medida que vão descobrindo a verdade, enquanto entram em conflito com o seu senso de moralidade. O filme coloca-nos na posição de observador, onde a emocionalidade e o ambiente fazem deste trabalho do realizador Wong Kar-wai uma peça evocativa e visceral.

Ip Man (2008) é uma história que mistura elementos reais com um desenrolar fictício, onde o papel principal é o de um mestre de artes marciais que vive a sua vida de forma simples e segundo princípios confucianos, quando a invasão japonesa muda drasticamente a vida em Foshan, onde Ip Man (Donnie Yen) fazia a sua residência. Um filme de acção, porém sem os exageros a que o género nos habituou, Ip Man é mais um clássico do cinema de Hong Kong.
Este título está actualmente disponível na Netflix.

Lust, Caution (2007) conta a história de uma estudante universitária e actriz de teatro de protesto que se vê no papel de espia, cuja função é seduzir para assassinar um agente do governo fantoche da ocupação japonesa. Dentro do estilo de Ang Lee, este é um filme que explora e desenvolve de forma aprofundada as personagens, e a contextualização histórica é uma mais valia para um filme arriscado e intenso.
Do mesmo realizador, são de relevar nomes como O Tigre e o Dragão (2000), e “Yin shi nan nu” (EN: Eat, drink, man, woman) (1994)

Estes são alguns filmes que recomendamos, com outros nomes e outras regiões para abordar no futuro.

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