Intelligence na Era Moderna

Comparação do antes e depois da explosão no porto de Tianjin em 2015, via Google Earth

A Terceira Revolução Industrial, no final da década de 90 e início de 2000, criou uma nova vaga de globalização, ou como o World Economic Forum lhe chama, uma “Globalização em esteróides”, que mais uma vez, iria mudar a sociedade. O impacto desta vaga foi de tal forma significativa, que nos é difícil recordar um mundo antes da comodidade tecnológica, não só para o individuo, mas também para o coletivo. Permitiu-nos dar um novo passo na nossa evolução social, dando-nos novas tecnologias, nas diferentes áreas da nossa sociedade, como a medicina, economia, as ciências exactas, comunicações e infraestruturas.

Nunca o acesso a informação foi tão fácil como nesta era. Basta ter uma ligação à internet, abrir um navegador e procurar alguma coisa no Google para ter uma resposta imediata. Embora esta facilidade possa levantar questões sobre como isso afeta o nosso dia a dia, tornou-se numa ferramenta essencial para diversos sectores da nossa sociedade, especialmente na recolha de informação.

A informação tornou-se um bem tão essencial que muitos comparam o seu valor com o valor do petróleo. O acesso a informação foi sempre algo privilegiado e trabalhoso de ter, para além do custo associado à obtenção de informação por meios que até recentemente eram demasiado caros e que apenas alguns Estados conseguiam ter acesso. Esse custo foi mitigado pelo impulso das novas tecnologias, a partilha de informação passou a ser mais frequente e facilitada, tornando-se num processo diário para toda a sociedade, impulsionado ainda pelas redes sociais. Actualmente é possível ter acesso muito mais rápido e em tempo real sobre diversos acontecimentos em todo o globo.

O OSINT, ou Open Source Intelligence, tornou-se um complemento para a Intelligence clássica, sendo que uma das vantagens é que o acesso é possível por qualquer pessoa. É necessário, no entanto, definir como chegamos ao campo de OSINT, para isso é necessário definirmos dois termos: Open Source Data (OSD) e Open Source Information(OSIF). Iremos utilizar as definições encontradas no Manual de OSINT da NATO, embora outras instituições tenham definições um pouco diferentes.

Open Source Data, são “Data is the raw print, broadcast, oral debriefing or other form of information from a primary source. It can be a photograph, a tape recording, a commercial satellite image, or a personal letter from an individual.”, ou seja, basicamente qualquer informação pública a que tenhamos acesso, o que nos leva ao segundo termo, Open Source Information, que, segundo o manual, é definido como “comprised of data that can be put together, generally by an editorial process that provides some filtering and validation as well as presentation management. OSIF is generic information that is usually widely disseminated. Newspapers, books, broadcast, and general daily reports are part of the OSIF world.”, ou seja, depois de termos acesso a informação, existe um processo para validarmos essa informação, podemos pensar no processo jornalístico. Este processo finaliza com a criação de OSINT, “OSINT is information that has been deliberately discovered, discriminated, distilled, and disseminated to a select audience, generally the commander and their immediate staff, in order to address a specific question. OSINT, in other words, applies the proven process of intelligence to the broad diversity of open sources of information, and creates intelligence.”, ou seja, é determinar como utilizaremos a informação recolhida e analisada para os nossos diversos objectivos.

Com as definições em mente, podemos agora passar para alguns exemplos de fontes de OSINT. Antes do boom tecnológico, a televisão e a rádio, eram principais meios públicos de acesso a variadas informações, mas com a internet, este tornou-se a principal fonte de informação, não só porque é de simples acesso, mas pela diversidade e quantidade de informação que temos disponível. Outros exemplos, poderão ser o acesso aos mapas online (ex. Google Earth ou o Yandex maps) para localizarmos certos acontecimentos ou vermos a evolução de determinado local. É claro que, embora OSINT tenha vantagens, neste caso uma das desvantagens é que o acesso a imagens de satélite não é em tempo real, o custo para ter esse acesso seria demasiado elevado, para além de questões de segurança que podem impedir a sua disponibilização para o público geral. Para exemplo, podemos ver as imagens abaixo, que mostram a presença de jatos russos, que poderão ser Sukhoi Su-34, no aeroporto Bassel Al-Assad, na Síria, após abril de 2016 e continuaram até, pelo menos, maio de 2020. Outras ferramentas mais curiosas, são as de tracking de aeronaves, que pode ser utilizado para seguir aviões específicos de diferentes pessoas de interesse ou forças armadas.

As redes sociais também desempenham um papel crucial neste meio, a sua larga escala de utilizadores permite que a informação circule muito rapidamente por toda a rede. Aplicações como o Twitter, são muito utilizadas para a divulgação de conteúdo em direto, muitas vezes através de “bots” (contas criadas apenas para aumentar o círculo da propaganda), ou então, mais especificamente no caso da Rússia, a rede do Telegram é muito utilizada para a divulgação de acontecimentos na Rússia e Este Europeu.

As técnicas de OSINT são valiosas para os diferentes níveis, seja para nós, enquanto estudantes, ou para empresas que tratam matérias de criação de OSINT, como a BBC Monitoring, que se dedica à criação de OSINT através tratamento de informação dos diversos média mundiais. Outros casos podem ser utilizados, empresas como a Strafor, utiliza OSINT como forma de análise dos diversos temas e vende os seus serviços às empresas ou indivíduos interessados. É através destas empresas que os Estados podem beneficiar do OSINT, podendo ter acesso a informação imparcial. Até mesmo para as forças de segurança ou, como descreveria o ABC News Australia, “transformar pessoas normais em analistas de intelligence”.

A OSINT torna-se, assim, uma valiosa ferramenta, que de alguma forma é utilizada todos os dias nos mais diversos campos da sociedade, ainda que com todas as suas limitações. A sobrecarga de informação também dificulta o trabalho de quem investiga e analisa os diversos acontecimentos, ainda para mais com o aumento da informação falsa, e mais sofisticada, e com diversos grupos terroristas, e não só, em campanhas de recrutamento ou de propaganda. Não é, de modo algum, um substituto da Intelligence clássica, mas é um complemento válido que nos ajuda a analisar e refletir sobre os vários temas da sociedade internacional.

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